segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Porque é que o errado nunca é o certo?

Não, não estou a tentar rivalizar com a Lili Caneças. Simplesmente lembrei-me de dividir as pessoas por quem sentimos, podemos vir a sentir ou chegámos a sentir alguma coisa em dois grupos.

Para começar, temos aquele rapaz que gosta mesmo de nós e nos trata super bem. Sabemos que se acabarmos com ele, vamos torná-lo miseravelmente infeliz. É o rapaz certo, o sr. Perfeito. É super atencioso e manda mensagens diárias a dizer que tem saudades nossas, é sempre ele que telefona, quer estar connosco todos os dias, é carinhoso, preocupa-se a sério, sabe do que gostamos, sabe do que não gostamos, faz os possíveis para nos ouvir, dá-nos razão e deixa de fazer coisas que gosta para estar connosco.. conhece-nos tão bem e ao mesmo tempo conhece-nos tão mal! Não percebe que, apesar de ser tudo aquilo que alguma vez desejámos, torna-se monótono. A relação em si chateia, não dá luta! É verdade que temos necessidade de ter alguém que goste verdadeiramente de nós, que nos dê a certeza que vai estar lá quando as coisas correrem mal. Mas aborrece na mesma. Ao fim de alguns uns meses, já não podemos ouvi-lo dizer que sente a nossa falta. A maneira de falar, o tom da voz ou algum tique mais estranho enerva-nos. Já não apetece estar com ele e inventamos 1001 desculpas para nos rasparmos. Sentimo-nos super mal por estar a magoar o nosso sr. Adorável, mas a verdade é que já não há pachorra! Já não sentimos nada por ele e não queremos ficar com um tique nervoso cada vez que o vemos à nossa frente! Como é que o rapaz dos nossos sonhos é entediante? Como é que ele não nos atrai? Porque é que lhe respondemos mal sem necessidade nenhuma? Porque é que ele nos perdoa sempre com tanta facilidade e, em vez de nos sentirmos felizes por isso, sentimo-nos mal? E acima de tudo: porque é que os beijos dele não sabem a nada?..

Depois temos aquele rapaz que, logo para começar "bem", tem uma fila de 300 miúdas atrás dele. Eu não gosto de filas, mas caio na asneira de gostar quando me deixam passar à frente.. Pode nem ser muito inteligente, mas é bem humorado e cativante! É alguém que sabe atrair e tornar-se interessante com o desenrolar da conversa. Normalmente tem qualquer coisa física que nos atrai, pode nem ser bonito, mas tem qualquer coisa que nos prende o olhar. É o rapaz errado, o bad boy. Faz-nos lutar por ele e deixa-nos gozar a vitória, mas sabe manter a distância e liberdade certas para que continuemos atraídas, preocupadas e interessadas. Passa dias sem dizer nada e não se preocupa com isso. Não nos conhece verdadeiramente e é incapaz de dizer qual é o nosso livro/filme favorito. No entanto, atrai-nos de uma maneira fenomenal! Está sempre no local errado e à hora errada (no país onde fomos passar 2 semanas de férias ou na terra da tia que mora no cú de Judas e sabemos sempre que, a dado ponto, temos que nos separar). Não quer nenhuma relação séria, mas nós também sabemos isso à partida, estamos todos a par das regras do jogo. No entanto, tem qualquer coisa que nos faz não querer ir embora. Temos a certeza que não é a pessoa certa para nós, mas estar com a errada é demasiado bom!.. Os beijos são apaixonados, parece que o desejo anda sempre no ar e não pára de crescer. Aliás, convencemo-nos que não sentimos absolutamente nada pelo dito cujo até ele entrar na sala, em câmara lenta. Não há monotonia e até podem existir discussões. Sabemos que ele sobrevive sem nós e nós sem ele, mas a atracção mútua é difícil de disfarçar e de suportar! Além disso, depois de ultrapassadas as barreiras iniciais, o reencontro é sempre apaixonadamente explosivo..

Se o sr. Errado nos convidar para fugir com ele para a Conchichina, nós aceitamos numa fracção de segundo, sem pensar em mais nada a não ser que vamos recordar aquela semana para o resto da nossa vida. Se o sr. Certo nos pede para ir jantar fora e conhecer os pais dele, a nossa agenda enche subitamente. Melhor ainda, começamos a evitá-lo porque, em boa verdade, não sentimos nada de especial por ele. Aquela paixão? Desejo ardente de estarmos sozinhos? Aquela vontade de sentir o cheiro da outra pessoa, senti-la encostada ao nosso corpo?..
Mas porque é que os errados nunca se transformam nos certos?!

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Folha em branco

Sentei-me e ali me deixei ficar. Pés enterrados na areia e os dedos da mão a traçar minúsculos caminhos que eram destruídos a cada nova passagem. A água ia e vinha, fazia um acabamento espectacular sobre os meus pés enterrados. Quando olho para a água do mar naquele movimento permanente só me lembro daquela música antiga: "O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, bate na areia e desmaia porque se sente feliz!". Não me sinto feliz, mas sinto-me em paz. Sinto que estou, finalmente, no caminho certo. Sinto que é este o sentimento correcto. Desenterro o meu pé direito com a ajuda da água, calmamente. Reparo na pulseira que trago no tornozelo. Sorrio ao pensar que é preta e branca, como se fosse tudo assim tão simples, "sim ou sopas", "preto ou branco". E tu és tão cinzento! Complicado, uma mistura de preto e branco demasiado mexida e batida ao longo da tua vida. Mas no meu pé até que fica bem. Lembro-me da tua mão a percorrer-me a perna desde a coxa até ao pé.. só aí descobriste a pulseira! Achei que era tarde demais mas ainda aí era ofuscada pelo branco, o branco do sofá e do que eu pensava que eras.

Desenterro os dois pés e levanto-me. Entro dentro de água, brinco e salto.. como faço sempre. Pareço uma miúda pequena mas dá-me gozo estar dentro de água, horóscopos à parte, este é que é o meu elemento! Salpico a roupa, molho-me e, com algum custo, lá me lembro do que vim cá fazer. Saio da água, volto para a areia e retiro a pulseira do pé. Tiro-a com muito cuidado, não sei porquê. Estava já com um certo balanço para a atirar quando me lembrei que as ondas podiam trazê-la de volta. Entrei na água, de novo, e caminhei até ter água pelo joelho. Dobrei-me e abri uma cova no fundo, entre as conchas partidas e os caranguejos. Deixei a pulseira a repousar dentro da cova e tapei-a. Saí da água e não voltei a olhar para trás, não queria memorizar o local exacto onde estava. Só sabia que tinha que ser ali para se juntar à tua. Era demasiado lógico para mim, não tinha sentido mantê-las separadas.

E a folha continua em branco...