terça-feira, março 27, 2007

O infinito cá dentro

Sinto que não pertenço aqui, assim como sinto que tudo isto - o ar, a maresia, o meu tom de pele preparado para o sol, os olhos escuros, a língua do meu subconsciente - é quem eu sou. A vida não pára, o verde voltou a assolar a terra, as flores aparecem em todos os cantos e a bicharada está de volta. Não sei se gosto desta rotina, desta previsibilidade ou se realmente é tudo novo e eu não me apercebo. Sei que é tempo de avançar, nunca sei muito bem para onde estou a caminhar mas gosto do caminho que estou a percorrer, não me apetece curvar nem tomar atalhos. Avanço devagar, mas com vontade de dar um passo e depois outro.

Esqueço-me do sabor dos morangos com chocolate quente enquanto me delicio com cerejas e penso que as ameixas pretas estão verdes enquanto vermelhas.

Continuo a acordar ao som de rolas, não está frio, nada de mantos brancos, apenas sol, um calor ameno e uma vontade enorme de sair. É a minha estação preferida e volta tudo a ser igual, se calhar até é tudo diferente. Apetece-me dançar à chuva, apetece-me estar ao sol, não me apetece falar, quero sentir-me inundada com os cheiros e as sensações. Recordar o frio ao sol, fechar os olhos e mesmo assim ver o que tenho à minha frente. A dança das pessoas, dar a mão a alguém, descer uma rua muito movimentada só para me sentir ignorada e muito pequenina, mas bem no coração da acção. Ouvir música que me faz sentir nos anos 20, visitar palácios e tremer ao pensar no gelo que atravessa as paredes no Inverno... Divirto-me facilmente, aborreço-me ainda mais e sinto uma necessidade enorme de avançar, o que quer que isso seja. Isto nunca vai mudar em mim.

Choro, rio, vejo o tempo passar, vejo o vento a dançar com folhas e a delinear as curvas que podiam ser os caminhos que percorri ou talvez os milhares que nunca percorri. Olho para trás e apetece-me rir, fazia tudo de novo. É tudo o que tenho, é quem eu sou. Encolho os ombros. Esta noite queria que me nascessem asas e voasse para longe... queria brincar com as estrelas, rodopiar como as luas, explodir em milhões de pedacinhos, tornar-me parte de alguma estrela numa constelação muito longe. Mas também queria acordar exactamente aqui.