sexta-feira, março 27, 2009

Suster a respiração

Se algum dia me disseres que nunca mais me queres ver, acho que parte de mim vai secar e morrer para sempre. O que te dei de mim sem me aperceber não vai voltar e sei que esse buraco vai tornar-se num vazio cheio de mágoa. Pensar que nunca mais me vais abraçar.. como é possível não ser egoísta? Não é que a tua felicidade não me interesse, mas realmente só interessa se continuares a procurar-me. Podes ter outras pessoas, as que quiseres. Ver-te próximo de outras mulheres é como espetar uma lâmina bem fina no espaço entre o dedo e a unha, mas é uma dor consideravelmente menor a nunca mais sentir a tua respiração no meu pescoço. É tão fácil fingir que te ignoro enquanto a dor cresce inexoravelmente.

Soa a um certo masoquismo, mas não há realmente nada que possa fazer contra isso. Se calhar é mais obsessão... não é que não hajam outros homens que me fazem sentir o mesmo ou até melhor que tu. Mas tu tens uma parte de mim que eles nunca terão. Não sei o quê, mas sinto-me perdida e sozinha só de pensar que posso nunca mais tocar-te, nunca mais adormecer encostada a ti e acordar com vontade de rir. E se nunca mais sentir isso, não me vai sobrar nada bom. E o que sobrar, os restos de mim que passeio todos os dias, vão pensar em ti insistentemente a cada momento que fique sozinha. Vai apetecer-me simplesmente deixar de respirar.

segunda-feira, março 09, 2009

Sonhar

Olho para a esquerda e vejo que estou à beira de um precipício que acaba no mar. Vejo a espuma das ondas que se desfazem violentamente contra as rochas, enquadradas pelo azul forte da água profunda. Sinto o vento a puxar o meu cabelo para trás com força e os pedaços soltos de roupa a agitarem-se nervosamente. A maresia e a humidade no ar invadem-me os sentidos... sinto os salpicos de água salgada na cara. Abro os braços à força do vento e deixo-me planar.

Em frente vejo os meus pés. Estou deitada na areia quente e oiço o mar calmo, sem ondas. Está calor e sinto-me tão confortável e embalada pelo sol... sinto a preguiça vir, fecho os olhos e desfruto o momento. O calor na pele, o som do mar de fundo e o cheiro a férias que me invade o cérebro. O conforto de não ter que estar em mais lado nenhum nem fazer mais nada.

Atrás de mim está uma montanha. Há alguns salpicos de neve, o céu tem uma cor acizentada e as nuvens estão por baixo. Está imenso frio, mas tenho dois casacos vestidos e deixo de sentir o frio quando olho para as nuvens debaixo dos meus pés e é a custo que vislumbro as casas bem lá no fundo do vale. Como se estivesse a observar o mundo pela janela de um avião mas sem limitações... estou no céu.

Se olhar para baixo vejo-me deitada, a dormir repousadamente: cabeça na almofada e olhos fechados. Os lábios esboçam um leve sorriso que acompanham as boas sensações que me invadem. Olho para cima, estico-me. Apoio os braços e estico o pescoço de encontro ao teu beijo... bons sonhos.