sexta-feira, julho 27, 2007

Primeira pista: entrar no jogo

Senti a brisa que abanava insistentemente as folhas da árvore por cima de mim. Olhei para os meus pés por nada de especial, simplesmente porque estavam no meu horizonte já que estava sentada na relva a ganhar fôlego. Senti-me a transbordar de alegria, alegria por nada em particular, apenas felicidade pura por tudo. Lembrei-me daquela manhã, agora parecia que tinha acontecido tudo num passado distante...

Acordei sem saber porquê e com sono, abri um olho, desejei que não fosse demasiado cedo para não desperdiçar tempo útil de sono (afinal era fim-de-semana), liguei o telemóvel para ver as horas. Era mais cedo do que eu pensava, mas desconfio que nem voltei a pensar nisso assim que uma mensagem anónima chegou: “Bom dia! Que tal um jogo para acordar? Sete pistas... A primeira pista está em ti!”. A mensagem tinha sido enviada há menos de cinco minutos. O meu cérebro ainda estava ensonado, mas o meu instinto estava completamente desperto e pedia mais de mim do que eu podia dar. Reli a mensagem para ver se não havia nada mais explícito que me tivesse esquecido de ler. Em mim? Mas o que é que está em mim, além do óbvio? Olhei para os braços, mãos, pernas e tal e não vi nada. Espicaçada pela curiosidade, pus-me a esvaziar os bolsos do casaco e das calças de ganga que usei no dia anterior. Nada. Virei a carteira do avesso (e uma carteira de mulher tem muito que se lhe diga) e nada. Nada de papelinhos, frases perdidas, autocolantes, nada de nada. Resolvi tomar um banho para acordar e começar a pensar como deve ser. Ia ser frustrante se não percebesse a primeira pista, supostamente era a mais fácil. Lá fui até à casa-de-banho e quando me cheguei perto do espelho, vi que tinha uma seta horizontal, desenhada a baton, perto do meu pescoço. A seta parecia apontar para o ombro. Depois da estranheza inicial, virei-me de costas e vi finalmente a primeira pista! Corri até à máquina fotográfica (porque não conseguia ler como deve ser no espelho) e depois de algumas posições mais ou menos acrobáticas, consegui tirar uma fotografia ao que tinha escrito nas costas:

Espero que não fiques chateada pelo abuso, mas não podia ser nem muito fácil nem muito difícil, para não desmoralizares já! ;)

Quem quer que me tivesse escrito aquilo, era pessoa de confiança. Tinha estado no meu quarto, alguém a tinha deixado entrar e o meu subconsciente não me alertou enquanto dormia. E, apesar da mensagem trocista, eu estava determinada a participar e acabar o jogo! Só havia um pequeno (minúsculo) entrave: eu não percebia nada da primeira pista. Resolvi tomar o meu banho para refrescar as ideias e tirar o baton do corpo. Confesso que foi um bocado complicado porque não conseguia ver se estava a limpar no sítio certo ou não, já para não falar que já de si esfregar as costas sem ajuda dá algum trabalho. Desconfio que ficou quase bem lavado... a cor da primeira água fazia-me uma certa impressão, parecia que tinha pintado o cabelo de vermelho vivo ou alguma coisa do género. Quando me sequei, ainda olhei para a toalha para ver se não existiam resquícios de vermelho. E foi aí que os meus neurónios resolveram despertar do torpor provocado pelos lençóis e o banho quente. Não sabia se estava certa, mas valia a pena tentar!

quarta-feira, julho 18, 2007

Encosta-te a mim

As meias são sempre a última coisa... vá-se entender porquê. Esqueço-me delas frequentemente, acho que é por ter a mania de andar descalça. Pouco depois, abri a água... nem quente, nem fria. O resto da habitação devia estar mais fresca porque senti a formação de uma nuvem de vapor. Fechei os olhos e inclinei-me na direcção do jacto de água, mexi o pescoço devagar para deixar que a água caísse no ombro também. E foi quando te senti, embora já soubesse que estavas ali.

As gotículas de água no meu ombro derreteram-se nos teus lábios. Estremeci e senti-os a percorrem-me o pescoço enquanto inclinava a cabeça para a esquerda. Senti a ponta dos teus dedos a escorrer do meu ombro para a minha cintura num abraço vagaroso. Não mexi um milímetro do meu corpo, mas a minha mente pregava-me partidas porque ouvia o batimento acelerado e descompassado do meu coração sobreposto ao da água a cair. O teu abraço lento parou quando a tua mão me acariciou o ventre. Passados uns segundos onde ambos sustemos a respiração e só se ouvia a água a moldar-nos o corpo, puxaste-me contra ti com força, sem magoar... com segurança. Encostaste-me a ti.

Apoiei o braço direito na parede à minha frente, enquanto sentia o teu corpo colado, a moldar-se ao meu. A tua cabeça ligeiramente flectida para a frente permitia-me sentir o calor da tua respiração no meu ouvido e arrepiar-me a cada expiração. Se ainda não me tinha entregue, aquele foi o momento. Segurei a tua mão na minha barriga para não te afastares. Sem olhares e sem palavras, mergulhámos um no outro.