sábado, novembro 26, 2005

Voar daqui

Às vezes, as coisas que me rodeiam cansam-me. Tanta gente, tanto barulho, tanta coisa para fazer! É realmente incrível como ainda conseguimos acordar e deitar bem dispostos ou só mesmo acordar com vontade de viver o dia seguinte (nem que seja em contagem decrescente para sexta feira). Parece que fazemos milagres com as vinte e quatro horas que temos porque conseguimos fazer (quase) tudo a que nos propomos e ainda "sobra" tempo para dormir. Às vezes até sobra tempo para ficar na cama, de manhã, a ouvir a chuva a cair e a sorrir por não ter que sair naquele dia às oito da manhã. Não ter que sentir o frio a cortar a minha pele e estar ali quentinha enrolada nos lençóis. Estas pequeninas coisas como acordar e ficar na cama, um pacotinho quente de castanhas assadas, Sugos com sabor a limão, um rebuçado floco de neve, dançar sozinha ao som de uma música que já não ouvia há imenso tempo.. são todas especiais para mim. Ver-te sorrir.. ver os teus olhos transparentes e deixar os meus lábios mergulharem nos teus. Consegues o impensável, os meus olhos fecham à medida que o som da rua se vai tornando mais distante, as pessoas à nossa volta vão desaparecendo, os problemas esfumam-se! Estou noutro lugar qualquer só teu e meu, o tempo pára.

Quando abro os olhos, estou de volta à realidade. Há barulho, há coisas que fazer, há o tempo que passa, corre e foge por entre os meus dedos. Lembro-me de ter estado num estado de graça apenas há cinco segundos atrás. Nunca te vás embora.. preciso desta sensação que me provocas sempre que estás perto de mim, preciso de viajar até áquele sítio só nosso de vez em quando. De vez em quando, preciso de voar daqui..

terça-feira, novembro 15, 2005

Branco e Negro

Não te percebo nem nunca te hei-de perceber. Mas isso é uma coisa que gosto, se te conhecesse de trás para a frente, aborrecia-me. A verdade é que não tens nada de monótono, mas várias vezes me desiludes. É como se, a cada seis horas, estivesse com uma pessoa diferente. Tanto és atencioso e carinhoso, como distante e fechado em ti. Não te compreendo tantas vezes que penso que te ias embora se to confessasse. Sinto-me atraída porque és diferente, porque não te entendo. Porque és lindo e horrível. Porque me fazes chorar e rir mais do que qualquer outra pessoa. Porque não sou indiferente à tua presença, porque não confias em mim, por tudo pelo que te deixei ir, por tudo pelo que queria que voltasses e por tudo pelo que não te aceitei de volta. Estavas a mudar-me e eu não gostei da transformação. Quando me apercebi, não estava a tornar-me no que eu queria e tu nem deste conta. Eras tão fechado em ti como devoto a mim, sempre de extremos. Lembro-me de fazermos um daqueles testes online e tu seres um mago negro e eu uma maga branca.. é incrível como algumas parvoíces roçam a realidade.

Tenho saudades de me sentar no teu colo e estar só assim, sem palavras (eu era genuinamente feliz nestas alturas, sabias?). Tenho saudades de me fazeres rir onde quer que seja (atraindo público ou não), dos teus poemas, do teu cheiro, do teu cabelo revolto. Não tenho saudades de me deixares de falar durante dias por leres nas entrelinhas algo que eu nunca disse, por achares que me viste onde eu não estava, por tudo que acreditas que não podes ser e pelo que acreditaste que eu podia ser.

Às vezes pergunto-me como seria agora. Teria dado a volta por cima e seria feliz contigo? Será que te ia mudar? Acho que nunca me perdoaria se tu mudasses. És lindo e eu tenho medo que cresças e deixes de o ser. Mas também és um desastre, demasiado mau para ser verdade. Se te entendesse, perdia-me a mim. Desculpa.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Aeroporto

Sempre que estou no aeroporto, fico a observar as pessoas. Não consigo evitar olhar para tudo o que se passa como se o tempo parasse para mim e o meu leitor de mp3 me oferecesse a banda sonora do filme que se desenrola diante dos meus olhos. Até podia estar farta de aeroportos, mas não estou. Estou farta de voar, isso sim. Continuo a adorar a descolagem e a aterragem, mas o resto é sempre tudo igual, podia passar-se em qualquer lado e o cheiro do catering põe-me logo de dieta.

Não sei porque gosto de aeroportos. Talvez pelas sensações diferentes, pessoas diferentes, línguas diferentes. Caras de aventura, caras de saudade, caras de felicidade, caras de tristeza, caras de monotonia (acompanhadas de uma pasta de executivo). Montras de souvenirs. Abraços sentidos, bagagem, seguranças, hospedeiras, filas de check-in, écrans com informação sobre os vôos, buliço de conversas cruzadas e telemóveis, revistas e jornais estrangeiros, avisos em voz alta em várias línguas igualmente incompreensíveis.. fotografias de despedida. As despedidas.. não desgosto delas, fica uma sensação de "até qualquer dia (espero eu)". Ninguém aqui se despede com indiferença, mas sim como namorados que vão ficar alguns dias sem se ver e que se olham como se nunca mais se fossem encontrar.

A minha banda sonora mudou para Leaving New York dos REM. Na "mouche"! É por isto que não há discussões nas despedidas. É capaz de ser mais difícil para quem fica do que para quem vira costas direito à porta de embarque, mas em ambos os casos fica uma nítida sensação de abandono. Eu sinto sempre que abandono qualquer coisa que já faz parte do que sou. Não faço ideia das divisões que tenho dentro de mim, sou de tanto lado que deixei de pertencer onde quer que seja. Tenho sempre saudades das pessoas, dos lugares e das paisagens, do cheiro, do vento, do ar de outros locais onde não estou. Não sei porquê. Talvez um dia volte a sentir que pertenço a algum lado, que a minha "casa" está num sítio especial. Não sei quem dizia que é preciso cortar as raízes antes de voar. É verdade, eu voei.