terça-feira, dezembro 11, 2007

Desalinhamento Planetário

Eu costumo andar feliz, é verdade. Só de passar perto de um braço de água e ver o céu reflectido fico bem disposta. Acho piada à chuva, especialmente quando escorrego mas consigo livrar-me de uma queda aparatosa que me faz rir imenso da minha falta de jeito e excesso de sorte. Mas o Natal... que hei-de dizer do Natal? Não sei, se calhar é das músicas de Natal e do ritmo que lembra neve a cair. E desta vez eu já vi cair neve de verdade! Se calhar é da iluminação, lindíssima nalguns pontos e terríveis noutros. É nestas alturas que me meto no carro (normalmente com companhia familiar) e vou devagarinho percorrendo as aldeias. Ninguém tira os olhos das janelas para ver quem encontra primeiro uma casa com uma grande conta de electricidade e demasiadas cores. Ou mesmo bichos estranhos iluminados no jardim. Adoro ver as iluminações que me deixam de olhos arregalados e são acompanhadas de uma gargalhada. Enfim, o esforço conjunto de tentar tornar as coisas mais bonitas tem e deve ser apreciado, seja qual for o resultado final!

É claro que há gente mal disposta e as coisas más continuam a acontecer. Mas isso é igual em qualquer outra data e não tem interesse em si, ao contrário da música nas ruas em repetição e a deixar-nos malucos com sininhos, pais natais terríveis pendurados nas varandas, iluminações duvidosas em todo o lado... onde é que se encontra isto noutra altura do ano? Na televisão, a publicidade fica carregada de brinquedos e os detergentes passam finalmente para segundo plano. Cá não neva ("se cá nevasse, fazia-se cá ski"! Não consegui resistir...), mas também não está muito agradável para tomar banho no mar. No entanto, há uma felicidade qualquer que é capaz de ser gerada pelos putos. Não sei realmente o que é, mas deixa-me feliz andar por aí nesta altura do ano.

E depois existes tu que me me agradeces por coisas que não têm a ver com papeis, escola, família e coisas do dia-a-dia. Não sei como descrever como é estar contigo, se bem que isso só aconteça por caprichos cósmicos. Quando há desgraças ou sortes estranhas e chocamos finalmente num uníssono "não" em "tens alguma coisa para fazer daqui a 20 minutos?". Fico sempre a pensar quando foi a última vez que corri de madrugada não sei para onde a rir-me sozinha. Nunca dá para planear nada e é tudo em cima do joelho. Mas depois é tudo normalíssimo, tanta coisa contar, tanta risada, tanto disparate. Até já temos rotina na nossa falta de rotina! E despedimo-nos com um beijo fugaz ao frio (o aquecimento ficou lá em cima!), porque nunca sabemos exactamente quando e o que vai acontecer depois e mais vale jogar pelo momento. Mas desta vez é quase Natal e até nos esforçámos por ultrapassar os obstáculos lançados pelo desalinhamento planetário que me dá sempre vontade de rir. É estranho saber que pode funcionar mesmo quando há uma combinação prévia e, depois de correr tudo mal como era esperado, parece magia ter-se realizado. Será do Natal que paira no ar? E se eu fizer um desejo de Natal, tu tentas concretizá-lo?...

terça-feira, dezembro 04, 2007

Uma espécie de Magia

No Verão estávamos a falar de uma cantora (cujo nome não é para aqui chamado) e alguém se saiu com um "Oh, she takes herself very seriously!". Rio-me sempre com esta expressão e tenho pena que em português não haja nada do género. Ninguém diz "ela leva-se demasiado a sério!". Efectivamente, achar que somos importantes e que o que pensamos/fazemos interessa aos outros é capaz de ser uma certa forma de egocentrismo e falta de noção de tudo o que existe completamente independente da nossa existência. No entanto, ter diante de nós a prova que a nossa existência não é nada, que o que quer que tenhamos feito até à data não altera em nada o futuro e que as coisas más podem surgir a qualquer momento, é um murro forte daqueles!

Acho que nem consigo bem imaginar o que é ter saudades de preocupações como "pagam-me mal" ou "queria ter um emprego melhor", como tu sabes. Custa-me imenso pensar que cada minuto é capaz de não se repetir e que tem que ser tudo levado com calma. Custa-me pensar que amanhã de manhã é capaz de estar tudo diferente de hoje à noite e que isso é capaz de destroçar completamente a vontade de ver o que se segue. Dizes que cresceste muito nos últimos dias e eu acredito sinceramente que sim, mas custa-me pensar nisso, porque sempre te achei completamente "crescido"... se é que isto tem lógica!

Curiosamente, é Natal. E apesar de uma data de gente se ter esquecido do que eu acho que é o significado do Natal, tu tiveste uma prova belíssima de que o espírito está bem vivo! Foi excelente aquela reunião de amigos... eu não conhecia mais de metade e não via outros há quase uma década, mas depois de alguma conversa inicial, é como se tivesse acontecido tudo ontem. As gargalhadas eram sentidas, a boa disposição (que era afinal o motivo daquilo tudo) estava patente na tua cara e foi óbvio para todos que o objectivo foi atingido, tu estavas genuinamente feliz. Pois é, uns dizem que contam pelos dedos de uma mão os verdadeiros amigos. Tu nem a somar os dedos das mãos e dos pés ias lá, já viste? Já para não falar dos que não puderam estar presentes, mas fizeram questão de enviar uma mensagem, um bolo, um miminho. Isto sim é espírito de Natal, é lembrar as pessoas de quem gostamos que elas são importantes para nós, mesmo que não sejam para os outros ou que nos esqueçamos de relembrar isso durante o resto do ano. Não é por lhes comprar uma TV, uma máquina para tirar cerveja (piada, ok) e coisas caras em geral que as pessoas se sentem mais acarinhadas. Eu adoro quando vem uma dedicatória num livro, um cartão escrito à mão, uma prenda que alguém se deu ao trabalho de personalizar para mim. Até mesmo uma sms com o meu nome ou que indique que não foi enviada em catadupa. É claro que têm mais valor e são aquelas que se guardam no coração e não só na estante. É por isso que peço postais de Natal escritos à mão como prenda de Natal! (E a todos os que fazem isso religiosamente ano após ano, por favor, não parem! :)

Eu acho que aquela reunião de amigos foi o melhor presente de Natal que te podiam dar, face às circunstâncias e às nossas limitações. A noite teve um toque de magia que aposto que se prolongou até à manhã seguinte (e não estou a falar da hora a que saímos de lá!). Cada um deu o seu tempo, disponibilidade, sorriso, abraço, beijos, conversa, humor... cada um deu o que tem de melhor sem ter que andar nos supermercados ou lojas cheias de gente. Cada um tentou fazer-te sentir melhor pela quantidade de sentimentos bons que podes gerar nas pessoas que se juntaram por ti. E nestas alturas apetece dizer para levantares um bocadito a cabeça, depois das notícias que te fizeram sentir à nora do verdadeiro sentido do que estamos a fazer por cá. Acredita que és importante para, pelo menos, duas dúzias de pessoas e podes levar a sério a quantidade de gente que está a torcer por ti!!

Esta magia "inadvertida" de fazer com que os outros se sintam bem com eles próprios e de os fazer sentir especiais para alguém é que é, para mim, o espírito do Natal. Feliz Natal, Bruno! ;)