quarta-feira, outubro 26, 2005

A teoria do Wally e do Ezequiel*

"..10 000 spoons when all you need is a knife.."
Suponho que esta frase da Alanis Morissette resume bastante bem aquela tendêcia do destino para gozar com a nossa paciência todos os dias. Se perdemos um relógio, o que é que acontece? Ficamos uma boa meia hora de rabo para o ar a virar a casa do avesso e não encontramos o sítio onde o raio do relógio se escondeu. A busca vai-se revelando cada vez mais infrutífera e o desespero aumenta quando começamos a procurar nos mesmos locais mais do que uma vez. Passados dois dias, perdemos mais qualquer coisa. Começamos à procura, mas eis que não é à toa! Por alguma manobra demoníaca inconsciente, começamos por procurar exactamente no único sítio onde não tínhamos procurado da última vez. É claro que continuamos com o último objecto perdido durante os próximos tempos, mas encontramos (à primeira!) o relógio que encabeçava a lista dos mais procurados lá de casa.

Eu confesso que sou daquelas pessoas tristes que passa a vida a telefonar para o próprio telemóvel a partir do telefone fixo. Não tenho ADSL e, como tal, acho que o meu telefone fixo só tem razão de existir porque eu nunca sei do meu telemóvel. Depois lá vou eu a seguir o toque para ver se encontro o telemóvel (que acha que é o Wally) antes que a chamada entre no Voice Mail e eu pague alguma coisa desnecessariamente. Isto é o meu dia-a-dia no que toca a telecomunicações móveis. No entanto, a coisa que me surpreende mais nestas "coincidências" bizarras nem é a quantidade de coisas que perco e o mau timing quando as encontro, é sim o raio da razão pela qual o telemóvel toca! Já não basta tocar quando estou na casa-de-banho, quando estou a tomar banho ou sempre que não posso atender (e, regra geral, oiço os meus pais a mandar vir e a perguntar para que é que eu quero o telemóvel se nunca atendo), como ainda parece que telefona sempre a pessoa "errada" quando eu atendo. Acho que toda a população portuguesa que tem o meu número, menos o Ezequiel, se lembra de me telefonar/mandar toque/mandar sms exactamente no dia em que quero que o Ezequiel se lembre da minha existência e ele está incontactável. Fico contente a cada toque do bicho, apenas para desmoralizar quando leio o nome no visor. A verdade é que já sei que vou passar a semana seguinte a esbarrar com o Ezequiel.

É claro que também posso falar daquele comboio que chega sempre atrasado e nos deixa à seca, excepto naqueles dias em que nos atrasamos e ele resolve sair a horas. Ou naquele dia em que não levamos guarda-chuva porque "só vamos ali" e chove torrencialmente durante os 100 metros que nos separam da porta do carro. Claro está, assim que nos abrigamos (com o novo penteado "esparguete" e roupa encharcada a condizer), pára automaticamente de chover e cair granizo. Mas será que as pessoas, o tempo e os telemóveis fazem de propósito?.. Quem quer que esteja a "comandar" isto lá de cima, tem um sentido de humor muito apurado! Ai tem, tem!..

*(vénia ao W.)

quinta-feira, outubro 20, 2005

Um olhar com voz

Não gosto dos teus sentimentos por escrito.
"Sinto a tua falta" não diz nada se a tua mão não procurar a minha.
"Acho que gosto de ti" não é nada se eu não puder ver o brilho nos teus olhos.
"Apetece-me abraçar-te" não significa nada se não estás aqui a pôr uma mão por cima dos meus ombros e a encostares o meu corpo ao teu.

No entanto, gosto de poemas escritos e não gosto deles declamados. Quando os leio, sinto as coisas em mim e posso parar para reler as frases que me tocam mais. Mas não me interessa se és capaz de escrever sentimentos e depois não tens a coragem de mos confessar. Dá ideia que todas as palavras te assolam a ponta dos dedos assim que eu me vou embora. E um toque, um olhar, duas mãos a cruzarem-se.. vale tanto! Se não és capaz de me tocar, mostrar, dizer ou mesmo de sussurrar o que quer que seja, então eu não acredito no que tu me escreves.

O teu olhar vale as minhas sensações, uma mensagem no meu telemóvel não vale nada.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Morreu antes de chegar aqui

Olhas para mim como se não fosse nada, como se eu continuasse a fazer parte da tua rotina. Eu não posso acreditar que estás aqui. Sorris e os meus olhos enchem-se de lágrimas.. o que é que estás aqui a fazer? Não acredito que voltaste aqui.. não acredito que estás a pedir-me para voltar. Será que não sentes que está diferente? Não está nada como estava.. eu não sinto o que sentia e tu também não. Não digas que tens saudades minhas, não digas que não consegues esquecer, não peças desculpa. Já passámos por isto tanta vez, não quero repetir esta noite. Esta noite não. Vai-te embora, por favor. Eu ainda não abri a boca, no entanto, esperar que leias a resposta no meu olhar está fora de questão. Nunca conseguiste relacionar-te comigo assim, nunca entendeste o que eu pensava em silêncio. Não entendo, depois de passarmos tanta coisa juntos, como é que agora parecemos dois estranhos. Não me sinto bem na tua presença, não me sinto à vontade. Talvez daqui a algum tempo, agora a tua presença dói-me. Não sei pôr isto de outra maneira, dói-me. Dói-me. Cada vez que oiço a tua voz, o meu corpo estremece e quer fugir para um sítio onde tu não estejas. Não vale a pena pedir desculpa.. de novo. Eu aguentei o que podia aguentar, tu aguentaste o que te pareceu bem. Não me faças chorar.. não esta noite. Tornas tudo tão difícil, nem me deixas tentar ficar com as memórias boas. Cada vez que sai uma palavra dos teus lábios, o meu cérebro turva um bom momento e o meu coração mata devagarinho o carinho que ainda tenho por ti.

Deixa-me ir, o amor morreu. Morreu algures no caminho que trilhámos até chegar aqui.