segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O dia das serpentinas apaixonadas

Pois bem.. o dia dos namorados. No ano passado evitei ao tema, mas este ano resolvi falar dele. Primeiro que tudo (e porque acho isto muito importante) o dia 14 de Fevereiro é o dia europeu da disfunção eréctil. Sobre este último não digo mais nada porque o sentido de oportunidade já é suficiente. Depois também acho interessante festejarmos com muitas rosas e beijos o dia da morte do S. Valentim, torturado.. claro! É bom sabermos que mataram um padre porque ele casava os rapazes que estavam bons para ir para a guerra e o governante da altura não achou piada. Como os casamentos continuavam em grande número, alguém resolveu cortar o mal pela raiz e matar o padre. Coitado! Já nesta altura a união de facto tinha poupado uns tantos problemas jurídicos.

Isto de ter as lojas todas vermelhas, cheias de corações e peluches é um bocado foleiro. A verdade é que as lojas no Carnaval estão muito mais alegres com serpentinas, máscaras de palhaços,ursos, índios.. sei lá, um nível de foleirice um bocadinho mais baixo. As pessoas estão com outra disposição, ninguém se chateia por tentar jantar fora e os restaurantes estarem preparados apenas com mesas a dois com a porra das velinhas. Porque não juntar as duas festividades? Porque não ver as famílias com as crianças mascaradas (ou mascarradas) nos restaurantes assim como um lobisomem a jantar com a menina da GALP pluma? Ou um fantasma a abraçar um crocodilo? É que além de um dia para fugir ao nosso aspecto diário e do aspecto da pessoa que vemos mais vezes (ou talvez não) há outras tantas facilidades a ter em conta: se estiveres apaixonado por uma pessoa do mesmo sexo, ninguém fica a olhar para ti de lado se fores vestido de mulher/homem, podes sair dos restaurantes/bares sem pagar porque também ninguém viu a tua cara e, de qualquer maneira, com a luz das velas podes sempre começar um pequeno fogo de distracção com as serpentinas!

Mas o dia dos namorados também tem coisas giras. Ver grandes filas de homens nas floristas (depois da hora de saída do emprego) e ver homens que se metem na fila e compram flores porque sabem que é um dia especial, mesmo que não saibam exactamente qual. É aqui que a publicidade ajuda e não serve só para testar o daltonismo, é impossível que exista alguém que não perceba que o dia dos namorados está a chegar, mesmo que seja um despistado nato! É sempre bom termos a certeza que não nos vamos esquecer destes dias, não vá alguém levar os esquecimentos a peito! Também é verdade que os namorados fazem questão de mostrar que gostam um do outro quando lhes apetece, não precisam de dia pré-definido. Este dia é então uma boa desculpa (como outra qualquer) para uma escapadela dos que estão juntos há uma eternidade, até porque há borlas nos telemóveis e descontos em pousadas que devem ser aproveitados!

Estão a ver, nem tudo é mau na época da invasão da coronária vermelha!
Mas a melhor parte deste dia, que é mesmo boa, é que aparecem morangos em todos os hipermercados a um preço fabuloso! Mesmo em caixinhas de plástico reles em forma de coração, temos morangos doces em Fevereiro e eles fazem-me pensar que há sempre um bocadinho da Primavera todo o ano em todo o lado.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Tudo bem?

O que é que queremos realmente dizer quando perguntamos "tudo bem?", será que estamos mesmo interessados na resposta? Acho que, em 80% dos casos, o pessoal se está a marimbar. O início de conversa mais batido é o belo do "olá, tudo bem?" e a reacção posterior é quase sempre a mesma quer a pessoa nos diga que se tentou mandar duas vezes de uma ponte abaixo quer diga que descobriu um chá espectacular para os nervos. Só respondemos à parte do "e contigo?" de onde sai o típico "tudo (bem)!". Perguntar se está tudo bem é, basicamente, uma questão de boa educação, o estarmos interessados na resposta já é pedir muito..

Perguntar a alguém se está tudo bem é um bocado arriscado se for ao vivo. Pode ser que a coisa corra bem, que a outra pessoa se fique por um "tudo bem e contigo?" e cada um siga o seu caminho. O problema é se a coisa corre mal e a outra pessoa está a precisar de desabafar com alguém (e está tão desperada que nem se importa se for connosco). "Epá, nem imaginas o que me aconteceu! No outro dia fui ter com a minha prima - aquela que mora para os lados de Algés - e não é que o carro.." - é a altura em que largamos algumas pistas subtis: olhar insistentemente para o relógio; ".. e depois o homem disse que só se eu fosse à oficina do Zé, aquele que já foi vizinho do meu avô,.." - evitar o contacto visual e procurar alguém conhecido nas redondezas; ".. eu já estava a ver a minha vida a andar para trás, sabes que eu não disse à Ana que lá ia.." - cruzar os braços e ser incapaz de acompanhar a conversa sem ser com "humm", "ah", "pois"; "..e no meio disto tudo, nem adivinhas quem é que eu encontrei! Ah pois foi, a Felisberta! Ao fim deste tempo todo, a vida tem cada uma.." - nunca se deve perguntar "a sério?" ou "ah sim?" porque isso dá para, pelo menos, mais dez minutos de monólogo. Se a grafonola se lembrar que tem dois ouvidos e que eles não estão a processar informação, então é capaz de perceber que se está a alongar um bocado e tenta que a coisa se torne num diálogo não monossilábico.

A pior parte é que quando devíamos deixar a boa educação em casa é que a esbanjamos.. velhotes, essa calamidade nacional! Somos todos sorrisos e damos um "olá!" rasgado, elogiamos a boa forma e perguntamos ao mesmo tempo que nos arrependemos: "tudo bem?". É a catástrofe, desastre total! Vamos passar os próximos dez minutos (optimismo) sem abrir a boca, onde o nosso interlocutor nem está preocupado se respondemos por monossílabos ou se não respondemos sequer, o que interessa é despejar o rol das enfermidades que ele/ela tem. É incrível como todos os velhos têm todas as doenças possíveis e imaginárias (deles e dos conhecidos deles), querem ser o supra sumo das doenças (como nós competimos por telemóveis, carros e respostas às perguntas do Trivial) e lá estamos a aturar tudo com o sorriso mais plástico que conseguimos porque ele nunca devia ter aparecido. Ficamos a saber das manchas que apareceram no dedo grande do pé, assim como do provável problema hepático (porque o Joaquim que mora na esquina também tem esse problema), da queda de cabelo, do cansaço, desconfiam que têm cancro, problemas respiratórios, cardíacos e que o médico é um incompetente porque não encontra nenhuma doença que não seja a velhice! Nós despertamos e despedimo-nos quando nos dizem a única coisa que se aproveita: para aproveitarmos a vida enquanto somos novos!..

Para poupar uns anos de juventude.. vou evitar perguntar se está tudo bem.