Saber que te vais embora trouxe uma série de memórias que eu pensava já não ter guardadas em mim. Essas imagens assaltaram-me a visão sem pedir licença e ocuparam a realidade com todos aqueles sorrisos e descobertas de quem está a aprender a viver. De repente apercebi-me de como me ajudaste a crescer e como te devo quem sou hoje, para o bem e para o mal. E já que é hora da despedida, gostava que levasses também um bocadinho de nós contigo.
Foi contigo que aprendi que o tempo é realmente relativo e que um segundo podia ser uma eternidade quando te atrasavas e como duas horas ocupavam fins-de-semana inteiros. Foi contigo que aprendi que os beijos não têm que ser nos lábios e que existem mil e uma formas de beijar mais ternas e carregadas de significado do que as que aparecem nos filmes. Aprendi como o silêncio pode trazer tantas palavras e como as palavras falham em expressar sentimentos tão grandes. E como a falta de palavras para expressar-me devidamente ainda me perturba desde então. Foi também um abraço teu mais apertado que me provocou duas lágrimas teimosas de felicidade que eu nunca tinha experimentado. Descobri quão incómodo pode ser o banco de um carro e como um sofá pequeno pode ser tão largo. Aprendi a fazer o mundo à nossa volta desaparecer apenas pela minha vontade e sem conhecimentos de ilusionismo. Compreendi que os olhares cúmplices podem conter conversas intermináveis e como a sinceridade não é suficiente para sair de casa a más horas. Dei por mim a rir na rua só de pensar em nós e a sonhar acordada a maior parte do dia. Comecei a confundir-te com as pessoas na rua até ver-te em todo o lado. Ensinaste-me a ver as coisas do teu ponto de vista, tão diferente do meu, e percebi finalmente que os cães podem ser tão giros como os gatos. Aprendi a gostar das coisas que defendias com tanta veemência, mesmo que não concordasse, só porque acreditava em ti. Ainda acredito. Descobri que o dia seguinte era invariavelmente fantástico ainda que não tivesse dormido mais do que duas horas, enquanto que a tua falta me fazia sentir desmotivada mesmo dormindo uma noite inteira.
Fiquei também a saber como a hipérbole actua comandada pelo nosso coração e amplia coisas banais em desilusões profundas que me chateavam intimamente porque nunca fui tão sensível. Porque contigo aprendi que a racionalidade cai para o fundo da cabeça e não há meios termos, vivemos alegrias imensas seguidas de sentimentos de perda irreparáveis. Aprendi a sentir a falta de alguém ao meu lado e de como o coração pode cair num buraco negro e pesar demais para que eu consiga levantar-me de manhã. Aprendi que uma música pode abrir feridas profundas e como é difícil respirar quando a garganta fica bloqueada pelas lágrimas. Descobri que era mais fácil chorar no banho porque ninguém me ouvia. Concebi finalmente o que era adormecer de cansaço, lavada em lágrimas e aos soluços.
Fizeste coisas por mim que eu nunca teria feito por ti e tenho vergonha de reconhecer isso. Não dei o meu melhor e gostava de poder voltar atrás e provar-te que o que eu sentia por ti era imenso e mais vasto do que tudo o que podias conhecer, mas agora é tarde demais. Vou aproveitar para despedir-me e agradecer-te todos os momentos que passaste comigo enquanto crescíamos juntos. Deste-me mais do que alguma vez poderia pedir a alguém e vais ser sempre parte de mim, estejas onde estiveres. Sempre.
domingo, junho 06, 2010
quarta-feira, junho 02, 2010
Nota da Redacção
Primeiro queria agradecer o entusiasmo que a história abaixo recebeu, foi muito bom ouvir a vossa opinião e já sabem para onde enviar os donativos! ;P E segundo, como parece que a ideia do pdf foi bem recebida, queria dizer que as short stories deste blog e, portanto as minhas favoritas (como a "Ligeiramente Insano"), podem ser encontradas no meu profile do Scribd.
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