Hoje adormeci enquanto estava a ler. No meu sonho entraste no apartamento sem fazer barulho, pousaste as chaves na mesa e foste pé ante pé até ao quarto. Deitaste-te ao meu lado, fizeste-me umas festas no braço e beijaste-me na face que não estava escondida pela colcha. Não tiraste logo os lábios e esfregaste-os devagar como fazes sempre. Será para sentir a suavidade da pele?… E eu sorri na expectativa de ver-te. Uns momentos depois, e ainda a sorrir, abri os olhos. Vi-o a milímetros da minha cara e o susto fez-me cair da cama.
Já me imaginei mil vezes a contar-te isto e em todas as versões desmanchas-te a rir quando te conto esta parte. Não consigo ver-te a reagir de outra forma ao saber que eu caí mesmo da cama abaixo. E imagino-te a rir à gargalhada enquanto descrevo como foi explicar-lhe porque é que me assustei ao ver a cara dele. Acho que te ris do ridículo da situação e por saberes que estava a sonhar contigo. Ou pelo menos de um dos dois.
Ele também se riu depois de ajudar-me a levantar e acho que não notou como a minha atitude mudou radicalmente. Não sabia o que fazer nem dizer, fingi que ouvia o que ele estava a contar-me e pensava em como podia ver-te. Só te queria a ti. Queria ver o teu sorriso nesses lábios tão finos que nem chamam a atenção. Ou espero que não chamem? Nem eu sei o que quero, só o que me apetece. Apetece-me falar contigo enrolada no teu colo até o sol nascer. Apetece-me tanto passar tempo contigo, até pode ser em silêncio. Sabias que na semana passada ele telefonou-me para ir jantar fora? Estive o jantar todo a observar o pessoal à minha volta enquanto evitava olhar em frente. E só quando senti o alívio de entrar no carro e ir embora sozinha é que finalmente a ficha caiu e eu percebi o que se passava. Ele pediu-me em casamento e eu aceitei. E agora?...