quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Tudo bem?

O que é que queremos realmente dizer quando perguntamos "tudo bem?", será que estamos mesmo interessados na resposta? Acho que, em 80% dos casos, o pessoal se está a marimbar. O início de conversa mais batido é o belo do "olá, tudo bem?" e a reacção posterior é quase sempre a mesma quer a pessoa nos diga que se tentou mandar duas vezes de uma ponte abaixo quer diga que descobriu um chá espectacular para os nervos. Só respondemos à parte do "e contigo?" de onde sai o típico "tudo (bem)!". Perguntar se está tudo bem é, basicamente, uma questão de boa educação, o estarmos interessados na resposta já é pedir muito..

Perguntar a alguém se está tudo bem é um bocado arriscado se for ao vivo. Pode ser que a coisa corra bem, que a outra pessoa se fique por um "tudo bem e contigo?" e cada um siga o seu caminho. O problema é se a coisa corre mal e a outra pessoa está a precisar de desabafar com alguém (e está tão desperada que nem se importa se for connosco). "Epá, nem imaginas o que me aconteceu! No outro dia fui ter com a minha prima - aquela que mora para os lados de Algés - e não é que o carro.." - é a altura em que largamos algumas pistas subtis: olhar insistentemente para o relógio; ".. e depois o homem disse que só se eu fosse à oficina do Zé, aquele que já foi vizinho do meu avô,.." - evitar o contacto visual e procurar alguém conhecido nas redondezas; ".. eu já estava a ver a minha vida a andar para trás, sabes que eu não disse à Ana que lá ia.." - cruzar os braços e ser incapaz de acompanhar a conversa sem ser com "humm", "ah", "pois"; "..e no meio disto tudo, nem adivinhas quem é que eu encontrei! Ah pois foi, a Felisberta! Ao fim deste tempo todo, a vida tem cada uma.." - nunca se deve perguntar "a sério?" ou "ah sim?" porque isso dá para, pelo menos, mais dez minutos de monólogo. Se a grafonola se lembrar que tem dois ouvidos e que eles não estão a processar informação, então é capaz de perceber que se está a alongar um bocado e tenta que a coisa se torne num diálogo não monossilábico.

A pior parte é que quando devíamos deixar a boa educação em casa é que a esbanjamos.. velhotes, essa calamidade nacional! Somos todos sorrisos e damos um "olá!" rasgado, elogiamos a boa forma e perguntamos ao mesmo tempo que nos arrependemos: "tudo bem?". É a catástrofe, desastre total! Vamos passar os próximos dez minutos (optimismo) sem abrir a boca, onde o nosso interlocutor nem está preocupado se respondemos por monossílabos ou se não respondemos sequer, o que interessa é despejar o rol das enfermidades que ele/ela tem. É incrível como todos os velhos têm todas as doenças possíveis e imaginárias (deles e dos conhecidos deles), querem ser o supra sumo das doenças (como nós competimos por telemóveis, carros e respostas às perguntas do Trivial) e lá estamos a aturar tudo com o sorriso mais plástico que conseguimos porque ele nunca devia ter aparecido. Ficamos a saber das manchas que apareceram no dedo grande do pé, assim como do provável problema hepático (porque o Joaquim que mora na esquina também tem esse problema), da queda de cabelo, do cansaço, desconfiam que têm cancro, problemas respiratórios, cardíacos e que o médico é um incompetente porque não encontra nenhuma doença que não seja a velhice! Nós despertamos e despedimo-nos quando nos dizem a única coisa que se aproveita: para aproveitarmos a vida enquanto somos novos!..

Para poupar uns anos de juventude.. vou evitar perguntar se está tudo bem.

10 comentários:

  1. O tudo bem devia ser encarado como o "how do you do?", a que se responde... "how do you do?"! Eu quero lá saber se alguém se mandou da ponte! Nem sequer moro na Margem Sul! Já os chás podem ser potencialmente interessantes...

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  2. Estamos a falar de chá preto, naturalmente... ;)

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  3. É bem visto.
    Mas se reparares, já faz parte do cumprimento... normalmente, ñ se diz só "olá!"... mas sim "olá, tudo bem?"... porque sim, ñ sei.

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  4. sonoscredita: obrigado pelo comentário e sim, eu sei que faz parte do cumprimento habitual. O texto é uma versão exagerada do que acontece (tinha que ser, n é? lol), mas sai-me quase sempre na rifa ouvir a vida de toda a gente que não me interessa, especialmente dos mais velhos! ;P

    balhau: tudo e contigo?...
    Olha estou com pressa, até à próxima!

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  5. "Amigos são aqueles seres estranhos que nos perguntam como estamos e esperam para ouvir a resposta"...
    Desde que li isto algures, comecei a fazer um esforço por só perguntar de facto se está "tudo bem" às pessoas de quem realmente quero saber...

    Portanto...
    Tudo bem? ;)

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  6. Como sempre, a escrever o que interessa e muito mais sensata do que eu! ;)

    Estou óptima, estou a esticar as minhas asas de novo para ver se continua tudo operacional! ;P Então e contigo? (sim.. eu quero saber! He he) Saudades***

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  7. Realmente...normalmente ao "olá, tudo bem?" respondo com um sorriso ou com o típico "tá e ctg?"...enfim...formalidades estúpidas Lol
    O pior é quando perguntam, "então, td bem?" e a pessoa é daquelas que gosta de contar a vidinha toda e começa a desenrolar o novelo todo...aí só me apetece gritar "tás bem não tás? pronto, o resto é informação desnecessária, pronto, agora posso seguir o meu caminho sabendo que cumpri a minha formalidade simpática para contigo.."
    :)
    enough is enough
    Minha gémea, beijinho grande =)

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  8. É um cumprimento cínico mas se pensarmos bem todos o são um pouco. Eu, pessoalmente, e apesar de ser considerado por muitos dos que me conhecem, uma pessoa fria nas relações com os outros, também dou por mim a ser um pouco cínico por vezes. Contudo, em 90% dos casos apenas pisco o olho às pessoas conhecidas, perco algum tempo a falar com a familia e tenho todo o tempo do mundo para os que amo. Há poucas pessoas, pouquíssimas, com quem converse realmente.
    Ah, e miss i, obrigado pelo comment no uatafak.

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