O que é que queremos realmente dizer quando perguntamos "tudo bem?", será que estamos mesmo interessados na resposta? Acho que, em 80% dos casos, o pessoal se está a marimbar. O início de conversa mais batido é o belo do "olá, tudo bem?" e a reacção posterior é quase sempre a mesma quer a pessoa nos diga que se tentou mandar duas vezes de uma ponte abaixo quer diga que descobriu um chá espectacular para os nervos. Só respondemos à parte do "e contigo?" de onde sai o típico "tudo (bem)!". Perguntar se está tudo bem é, basicamente, uma questão de boa educação, o estarmos interessados na resposta já é pedir muito..
Perguntar a alguém se está tudo bem é um bocado arriscado se for ao vivo. Pode ser que a coisa corra bem, que a outra pessoa se fique por um "tudo bem e contigo?" e cada um siga o seu caminho. O problema é se a coisa corre mal e a outra pessoa está a precisar de desabafar com alguém (e está tão desperada que nem se importa se for connosco). "Epá, nem imaginas o que me aconteceu! No outro dia fui ter com a minha prima - aquela que mora para os lados de Algés - e não é que o carro.." - é a altura em que largamos algumas pistas subtis: olhar insistentemente para o relógio; ".. e depois o homem disse que só se eu fosse à oficina do Zé, aquele que já foi vizinho do meu avô,.." - evitar o contacto visual e procurar alguém conhecido nas redondezas; ".. eu já estava a ver a minha vida a andar para trás, sabes que eu não disse à Ana que lá ia.." - cruzar os braços e ser incapaz de acompanhar a conversa sem ser com "humm", "ah", "pois"; "..e no meio disto tudo, nem adivinhas quem é que eu encontrei! Ah pois foi, a Felisberta! Ao fim deste tempo todo, a vida tem cada uma.." - nunca se deve perguntar "a sério?" ou "ah sim?" porque isso dá para, pelo menos, mais dez minutos de monólogo. Se a grafonola se lembrar que tem dois ouvidos e que eles não estão a processar informação, então é capaz de perceber que se está a alongar um bocado e tenta que a coisa se torne num diálogo não monossilábico.
A pior parte é que quando devíamos deixar a boa educação em casa é que a esbanjamos.. velhotes, essa calamidade nacional! Somos todos sorrisos e damos um "olá!" rasgado, elogiamos a boa forma e perguntamos ao mesmo tempo que nos arrependemos: "tudo bem?". É a catástrofe, desastre total! Vamos passar os próximos dez minutos (optimismo) sem abrir a boca, onde o nosso interlocutor nem está preocupado se respondemos por monossílabos ou se não respondemos sequer, o que interessa é despejar o rol das enfermidades que ele/ela tem. É incrível como todos os velhos têm todas as doenças possíveis e imaginárias (deles e dos conhecidos deles), querem ser o supra sumo das doenças (como nós competimos por telemóveis, carros e respostas às perguntas do Trivial) e lá estamos a aturar tudo com o sorriso mais plástico que conseguimos porque ele nunca devia ter aparecido. Ficamos a saber das manchas que apareceram no dedo grande do pé, assim como do provável problema hepático (porque o Joaquim que mora na esquina também tem esse problema), da queda de cabelo, do cansaço, desconfiam que têm cancro, problemas respiratórios, cardíacos e que o médico é um incompetente porque não encontra nenhuma doença que não seja a velhice! Nós despertamos e despedimo-nos quando nos dizem a única coisa que se aproveita: para aproveitarmos a vida enquanto somos novos!..
Para poupar uns anos de juventude.. vou evitar perguntar se está tudo bem.
O tudo bem devia ser encarado como o "how do you do?", a que se responde... "how do you do?"! Eu quero lá saber se alguém se mandou da ponte! Nem sequer moro na Margem Sul! Já os chás podem ser potencialmente interessantes...
ResponderEliminarEstamos a falar de chá preto, naturalmente... ;)
ResponderEliminarObviamente!
ResponderEliminarÉ bem visto.
ResponderEliminarMas se reparares, já faz parte do cumprimento... normalmente, ñ se diz só "olá!"... mas sim "olá, tudo bem?"... porque sim, ñ sei.
Olá... Tudo bem??
ResponderEliminarsonoscredita: obrigado pelo comentário e sim, eu sei que faz parte do cumprimento habitual. O texto é uma versão exagerada do que acontece (tinha que ser, n é? lol), mas sai-me quase sempre na rifa ouvir a vida de toda a gente que não me interessa, especialmente dos mais velhos! ;P
ResponderEliminarbalhau: tudo e contigo?...
Olha estou com pressa, até à próxima!
"Amigos são aqueles seres estranhos que nos perguntam como estamos e esperam para ouvir a resposta"...
ResponderEliminarDesde que li isto algures, comecei a fazer um esforço por só perguntar de facto se está "tudo bem" às pessoas de quem realmente quero saber...
Portanto...
Tudo bem? ;)
Como sempre, a escrever o que interessa e muito mais sensata do que eu! ;)
ResponderEliminarEstou óptima, estou a esticar as minhas asas de novo para ver se continua tudo operacional! ;P Então e contigo? (sim.. eu quero saber! He he) Saudades***
Realmente...normalmente ao "olá, tudo bem?" respondo com um sorriso ou com o típico "tá e ctg?"...enfim...formalidades estúpidas Lol
ResponderEliminarO pior é quando perguntam, "então, td bem?" e a pessoa é daquelas que gosta de contar a vidinha toda e começa a desenrolar o novelo todo...aí só me apetece gritar "tás bem não tás? pronto, o resto é informação desnecessária, pronto, agora posso seguir o meu caminho sabendo que cumpri a minha formalidade simpática para contigo.."
:)
enough is enough
Minha gémea, beijinho grande =)
É um cumprimento cínico mas se pensarmos bem todos o são um pouco. Eu, pessoalmente, e apesar de ser considerado por muitos dos que me conhecem, uma pessoa fria nas relações com os outros, também dou por mim a ser um pouco cínico por vezes. Contudo, em 90% dos casos apenas pisco o olho às pessoas conhecidas, perco algum tempo a falar com a familia e tenho todo o tempo do mundo para os que amo. Há poucas pessoas, pouquíssimas, com quem converse realmente.
ResponderEliminarAh, e miss i, obrigado pelo comment no uatafak.