quinta-feira, abril 26, 2007
The secret's safe
Como é que construímos tanta coisa à margem de nós próprias? É como se eu vivesse em dois mundos, o meu e de toda a gente e o outro onde a maior parte das vezes acho que estou sozinha. Também te achaste sozinha? Onde me faz falta não ouvir a minha voz e deixar chover todas as ideias que tenho presas cá dentro, não ter nada por breves minutos. Não sei porque achei que estava sozinha por lá, que o meu ninho era só meu. Não me lembro de pensar nisto até teres voltado, até não conseguir controlar o meu ritmo mesmo quando há um grande vazio. Até me teres segurado e abraçado com intenção de continuar a abraçar muito depois dos teus braços terem partido. Como é que preenchemos os vazios, os anos, os enganos, as outras pessoas? Como é que parece que não se passou nada entretanto? Como é que guardámos tanta coisa... Como é que mais ninguém nos vê, temos o mundo adormecido à nossa volta.
quinta-feira, abril 05, 2007
Bom dia!
Enquanto acabo o sumo de laranja, olho divertida à minha volta. As cuscas chegam cada vez mais cedo... suponho que nunca há tempo suficiente para dizer mal de toda a gente. Às vezes gostava de saber o que elas dizem de mim, o que conferenciam quando eu entro. Há uma mulher particularmente atraente que vem cá todos os dias beber o café antes de ir trabalhar, é o alvo preferido delas. Não sei se o que dizem dela é verdade ou mentira, mas duvido que seja verdade... é a inveja a falar mais alto. Aposto que queriam ser como ela quando eram mais novas: sofisticadas, independentes e lindíssimas.
Do outro lado está um grupo de estrangeiros. Há sempre estrangeiros no Verão, normalmente alemães, franceses ou espanhóis. Os últimos ouvem-se com uma certa clareza. Também acho piada ao pessoal que tem o sotaque cá do sítio, é provinciano mas tem a sua piada quando não dizem disparates. Oiço a conversa mas nem estou a tomar atenção ao conteúdo, estou simplesmente a registar as palavras onde a pronúncia é mais cerrada.
Até que tu chegas, ligeiramente atrasado, cabelo com risco ao lado a cair para os óculos. Sorris e iluminas tudo... nem esses teus olhos azuis pequeninos reflectem tanta luz. Sinto que até as cuscas te acham simpático e nem te conhecem. Levanto-me à pressa e nem acabo o sumo. Saio contigo, o meu dia começa agora.