- Hum? Estás a falar tão baixinho que não te percebo.
- E tu falas alto.
- Isso eu também sabia, mas com a televisão ligada fica difícil de te perceber... e de abrir os olhos.
- E querias tu a luz acesa!
- Não comento...
E ficámos os dois a rir de nada, enquanto o tempo corria numa maratona. Parece que foi há mais tempo, a memória prega-me algumas partidas e completa irrealmente o cenário. Fico sempre aquém daquilo que quero. Se num momento não quero fazer nada de que me arrependa, noutro acho que devia ter aproveitado mais, e se era a minha última oportunidade? Já nem sei a quantidade de vezes que mas ofereceram de bandeja sem que eu as mereça. Não sei bem como qualificar o que sinto por ti. Sei que mais facilmente daria lugar a outra pessoa do que ficava contigo se soubesse de antemão que te ia magoar e que me ias usar como desculpa para chorar. Ver-te sofrer por minha causa é como magoar-me infinitas vezes...
Apesar de afastar repetidamente a minha cara da tua e adivinhar-te o ar de confusão, bem no fundo queria acreditar que me vais dizer que desta vez não me deixas ir embora. Mas acabas sempre por deixar, não sei se na esperança que eu volte ou não. E eu parto sempre que abres a mão, sem saber bem porquê. Já longe, baralhas-me os sonos e fazes-me sonhar acordada quando toco nalguma peça de roupa que ainda tem reminiscências tuas. O silêncio entre nós volta a cair... até à próxima lua, se ela existir.