quarta-feira, junho 01, 2005

Crianças

"Um escultor manda vir um grande bloco de pedra e deita mãos ao trabalho. Uns meses mais tarde termina a escultura de um cavalo. Uma criança que o esteve a ver trabalhar pergunta-lhe então:
- Como sabias tu que havia um cavalo dentro da pedra?"

Incrível a maneira de pensar das crianças, não é? Tão simples, tão irresistivelmente lógica! São capazes de meter a um lado qualquer cientista de renome com as suas conclusões devastadoramente simples. Normalmente, a solução dos problemas tem tendência a ser algo fácil, como o ovo de Colombo! Arrisco-me a dizer que vêem a vida com olhos saudáveis, nós limitamo-nos a pôr óculos e a distorcer a nossa realidade, ano após ano, enquanto a nossa graduação aumenta. Felizmente, a doença é regressiva com o avançar dos anos, a graduação começa a diminuir e as coisas vão retomando aos seus respectivos lugares: as coisas importantes ficam mais perto e as coisas insignificantes afastam-se para a linha do horizonte (relembro que a linha do horizonte é uma linha imaginária).

Afastei-me um pouco do tema: as crianças. Há aquelas super mimadas, há aquelas super teimosas, há aquelas super chatas, há aquelas que parecem tomadas pelo diabo! No fundo, só há umas que crescem mais depressa do que outras porque, na sua maioria, crescem à imagem e semelhança dos pais. Uma criança não quer ter razão, é essa ingenuidade e humildade que lhes permite dizer o que pensam. Vêem apenas a vida tal como ela é e ainda a têm pintada por todo o carinho que as pessoas lhes dipensam. Abraçam sempre com força, riem com vontade, fazem caretas quando os obrigam a dar um beijinho às tias (eu ainda faço..) e não tentam disfarçar quando estão aborrecidas. Curiosamente, sabem o que está dentro delas e dos outros, podem não adivinhar o que está dentro de um bloco de pedra, mas compreendem o potencial do escultor. Será que nós nos apercebemos do potencial que está dentro de nós? Será que ainda temos e guardamos a "nossa" criança?

É bom "perder" tempo a ouvir e compreender quando uma criança tenta falar connosco. A visão dela é simples e lógica, cheia de imaginação, cheia de falta de razão, mas acima de tudo é uma realidade que também podia ser nossa. Suponho que o ponto fulcral da questão está em querermos ter razão, mesmo que para isso tenhamos que inventar uma coisa ou outra; ter razão faz-nos sentir importantes aos olhos dos outros. Porque é que temos medo de cair no ridículo? Porque é que temos medo de rir com vontade? Porque é que não rebolamos na relva, não andamos a correr à chuva, não fazemos nada das coisas mirabolantes que nos apetecem? Talvez por uma série de razões que acabam por não ter razão!

(O texto que transcrevi no início do post chama-se "Um segredo de escultor" e pode ser encontrado no livro "Tertúlia de Mentirosos" de Jean-Claude Carrière, da editora "teorema")

5 comentários:

  1. Fantástico. Ah, e...bem-vinda!!

    ResponderEliminar
  2. gémea minha de volta!!! weee..
    realmente as crianças...as minhas manas mais novas ainda me continuam a surpreender com as suas expressões como essas =) a do meio nem tanto, mas a mais nova é o delírio...qualquer dia elaboro o dicionário das "coisas maravilha da minha irmã", do qual constarão temos como anti-períodos (o que ela chama aos pensos higiénicos lol) e outros que tal..
    Beijo gémea!

    ResponderEliminar
  3. Yeaps de volta.. ainda cheia de trabalho mas com muito mais disponibilidade! ;)

    Goth: muitoooo obrigado! :)

    Gémea: as crianças surpreendem mesmo.. quer seja para o bom, quer seja para o mau! Mas adoro quando começam a andar e têm enormes semelhanças com os pinguins! lol
    Quando editares esse "dicionário", ñ te esqueças de uma ediçäo especial para os amigos! ;)

    ResponderEliminar
  4. Editora teorema!?? LOL ja me instruía... LOLOOL

    ResponderEliminar
  5. Crianças... esses seres estranhos que às vezes nos esquecemos que f(s)omos...

    ResponderEliminar