É normal sonhar acordada, mas tenho tendência para recuar uma série de anos e parar no mesmo momento do meu passado. Nós, o terraço da minha antiga casa e a falta de luz que nos propiciava uma vista espectacular da noite estrelada (que nós não aproveitámos muito... astronomicamente falando). Sempre que me deixo afundar nesta memória, sinto os sonhos e a realidade a esbaterem-se, sinto toda a curiosidade que tinha por ti a voltar, rodear-te e a alterar a minha percepção de ti e de tudo o que nos envolvia. O ambiente destilava um suave odor a magia, pura e simplesmente por te ter comigo.
O meu subconsciente ondula em torno de ti. Sinto as emoções a voltarem como se nunca tivessem partido e sinto-me a deslizar para quem era, estremeço a cada toque mais subtil ou suspiro mais profundo. Sinto-me etérea na teia de sentimentos que me provocas. É como se estivesse presa a esta sensação sem poder fazer nada para me libertar, mas ao mesmo tempo estou livre e delicadamente suspensa no ar pelas asas invisíveis que me dás. Mas pouco antes estava triste e isso ainda me consumia vagarosamente na tua presença. Desejei que conseguisses sorver essa tristeza quando (se) finalmente me beijasses. E beijaste, não foi um atabalhoado primeiro beijo, foi um beijo comprido e a sério, cheio de vontade. O meu primeiro beijo como nos filmes. Pouco tempo depois, seguraste-me e fizeste-me subir as escadas até ao terraço sem nunca tirares os teus olhos de mim. Colocaste-me entre ti e o parapeito e aproximaste-te até o teu corpo tocar completamente no meu. Num lapso de confusão afastei a cabeça por reflexo, mas fechei os olhos de prazer quando me beijaste o pescoço. Senti os teus braços a percorrer o meu corpo todo e deixei-te fazer o que quiseste. Segurei o cabelo para te facilitar a descoberta do pescoço e costas, mas sei que apesar da entrega não fiz mais do que o indispensável, parecia uma boneca de trapos nas tuas mãos. Deixei-me ser seduzida, voou tudo. Ficámos apenas nós e eu deixei de me preocupar com o que quer que acontecesse. Deixei-te fazer tudo, achei que aquela noite era só uma noite. Lembro-me da camisa aberta com um puxão teu, da luz fraca que incidia nos nossos corpos e as marcas cor de prata que a saliva deixava para trás. Lembro-me de verdadeiramente adorar o modo como olhavas para mim, ser objecto do teu desejo era digno do meu maior sonho.
Despedi-me de ti com um beijo cheio de intenção que não sei se percebeste. Tremia de prazer ainda, não estava a pensar sequer. Despedi-me sem palavras, apesar de depois ter sonhado com mil e um fins diferentes onde acabo eventualmente por dizer algo, uma declaração, uma piada, algo inteligente, algo estúpido, algo que desse a entender que percebia o que se ia passar a seguir. Algo que marcasse a despedida do que, naquela altura, parecia ser mais loucura nocturna e muito desejo reprimido do que um marco na minha vida. Naquela ignorância de descoberta infantil, nunca pensei que aquela noite me fosse marcar para sempre.
E cá estou eu, a percorrer com a imaginação e os meus dedos tudo o que queria reviver dessa noite... continuo a querer ser o teu objecto de desejo.
Uau... fizeste-me sentir tanta coisa ao ler este post...
ResponderEliminarÉ tão bom ter uma memória para re-visitar vezes e vezes sem conta.
ResponderEliminar(Ai que comentário sem graça! lol Sim, que re-visitar memórias é bom toda a gente sabe, não vim dizer nada de novo, mas gostei do blog e não me quis ir embora sem dizer nada. Pronto. )
:)
Aurora: Muito obrigada por basicamente resumires o que me disseram acerca deste texto! E claro, obrigada por leres... sempre!
ResponderEliminarAna: Muito obrigada pela tua visita! :)