segunda-feira, novembro 03, 2008

Chuva

Estava um frio de rachar... mas fizeste-me sair de casa. A vontade de estar contigo era tão grande que nem dei pelo frio cortante quando atravessei a rua. Estava quase a chover e o negro cerrado da noite era apenas cortado por um nevoeiro suspeito. Confesso que senti-me tentada a voltar para trás e refugiar-me debaixo dos meus lençóis quentinhos. Mas tu apareceste bem à minha frente e sorriste, eu não tive a coragem de não retribuir. E que sorriso!... Chegaste de mansinho, aproximaste-te o suficiente e deste-me um beijo lento, quase que conseguia sentir os teus lábios a fazerem uma pressão crescente nos meus. Sorri apenas para ti e aqueceste-me a alma. Abraçaste-me com força, como uma velha conhecida, e deixei a minha cabeça encostada ao teu peito enquanto protegia os meus braços no calor entre nós. Senti-me protegida e amada. Que sensação quente e improvável numa noite gélida...

Senti algumas gotas de chuva no nariz e o encanto quebrou-se momentaneamente. Levantei a cabeça e olhei-te, sorrimos os dois, demos as mãos e corremos debaixo da chuva até um porto seguro. Apesar de saber que é irreal, consigo ver-nos a atravessar as ruas, a correr de mão dada enquanto a chuva cai à nossa volta. Vejo o nevoeiro cinzento iluminado em focos de laranja artificial dos candeeiros. Esqueci tudo e todos os cuidados que me ensinaram. A minha pele molhada deixava que a as tuas mãos deslizassem com mais facilidade pela minha cara, pescoço e ombros. Cheiravas lindamente e apetecia-me nunca parar de beijar-te. Sentia-me livre para fazer o que eu quisesse e não conseguia sequer conceber a ideia que podia perder-te. O meu corpo esmorecia se te sentisse longe. Desejava-te tanto que não deixava que te separasses de mim mais do que a distância dos meus lábios na tua pele.

Sempre que começa a chover em noites enevoadas e passeio por entre os candeeiros, a tua imagem fica a rodar na minha mente e aquece-me quando revivo aquelas sensações. Às vezes sonho que naquela noite te tinha dito o que significavas para mim, e que nunca quis que déssemos aquele beijo de despedida enquanto o sol nascia e as nuvens já tinham partido.

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