Sentei-me e ali me deixei ficar. Pés enterrados na areia e os dedos da mão a traçar minúsculos caminhos que eram destruídos a cada nova passagem. A água ia e vinha, fazia um acabamento espectacular sobre os meus pés enterrados. Quando olho para a água do mar naquele movimento permanente só me lembro daquela música antiga: "O mar enrola na areia, ninguém sabe o que ele diz, bate na areia e desmaia porque se sente feliz!". Não me sinto feliz, mas sinto-me em paz. Sinto que estou, finalmente, no caminho certo. Sinto que é este o sentimento correcto. Desenterro o meu pé direito com a ajuda da água, calmamente. Reparo na pulseira que trago no tornozelo. Sorrio ao pensar que é preta e branca, como se fosse tudo assim tão simples, "sim ou sopas", "preto ou branco". E tu és tão cinzento! Complicado, uma mistura de preto e branco demasiado mexida e batida ao longo da tua vida. Mas no meu pé até que fica bem. Lembro-me da tua mão a percorrer-me a perna desde a coxa até ao pé.. só aí descobriste a pulseira! Achei que era tarde demais mas ainda aí era ofuscada pelo branco, o branco do sofá e do que eu pensava que eras.
Desenterro os dois pés e levanto-me. Entro dentro de água, brinco e salto.. como faço sempre. Pareço uma miúda pequena mas dá-me gozo estar dentro de água, horóscopos à parte, este é que é o meu elemento! Salpico a roupa, molho-me e, com algum custo, lá me lembro do que vim cá fazer. Saio da água, volto para a areia e retiro a pulseira do pé. Tiro-a com muito cuidado, não sei porquê. Estava já com um certo balanço para a atirar quando me lembrei que as ondas podiam trazê-la de volta. Entrei na água, de novo, e caminhei até ter água pelo joelho. Dobrei-me e abri uma cova no fundo, entre as conchas partidas e os caranguejos. Deixei a pulseira a repousar dentro da cova e tapei-a. Saí da água e não voltei a olhar para trás, não queria memorizar o local exacto onde estava. Só sabia que tinha que ser ali para se juntar à tua. Era demasiado lógico para mim, não tinha sentido mantê-las separadas.
E a folha continua em branco...
:)
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Tu lês-me os pensamentos.. como é que sabias que o comentário que eu queria era um sorriso? Um grande abraço! ;)*
ResponderEliminarDe quem era a pulseira?? O texto tá demais! Lindo...
ResponderEliminarConfesso que estou genuinamente espantada pelos comentários. Pensava que ninguém ia comentar e não iam gostar porque não tem nada a ver com os outros. Estou feliz! Parece q a minha imaginação tb tem qualquer coisa q se aproveite! lol
ResponderEliminarMuito obrigado a todos!!****
Sabes Miss I...há coisas que também gostaria de deixar num mar qualquer, gostava de conseguir não olhar para trás, nem para o que o futuro, onde estarei desamparada, me pudesse reservar...
ResponderEliminarMas eu tenho sempre de guardar na memória o sítio onde deixo algo, para saber que mais tarde posso desenterrar e saber, ainda, o sítio onde (te) deixei...:\
Muito bonito, mar... esse grandioso mar que tantos segredos guarda...
ResponderEliminarque delicia... ta fantastico miss i :)beijo
ResponderEliminar(Um pouco atrasado, mas... a culpa é da gripe!) Eu sabia que o comentário que tu querias era um sorriso da mesma forma que tu sabias que o que eu precisava era um abraco... ;) Conhecemo-nos há "demasiado" tempo... ;) Continua a imaginar e a escrever! ***
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