quarta-feira, março 19, 2008

Ligeiro Incómodo

Ao pé de ti, as coisas têm tendência para acontecer ao contrário do que eu quero. Lembras-te daquela festa em que estavas a fugir da tua ex? Eu estava a tentar fugir de ti e, claro, tanta gente trocou de lugar que quando a comida (finalmente) chegou, estavas sentado à minha frente! Não é que isso seja um problema à escala global, mas é-o no local onde eu estou, simplesmente distrais-me. E é uma distracção complicada! Tenho que estar concentrada para não estabelecer contacto visual contigo, o que tira a concentração que devia ter para entender a conversa que estou a ter com a pessoa que está ao meu lado. Já para não dizer que não posso esticar as pernas porque posso bater nas tuas e isso podia chamar a tua atenção, estás a ver o dilema? E nos bares, como é que estando em mesas corridas, ficas sempre do outro lado do que estou sentada? É que assim a probabilidade de olhar para ti aumenta!

E se tu olhares ao mesmo tempo que eu, dá-se um curto-circuito cá dentro. Se estiver a falar, fico de boca aberta e esqueço-me do que ia a dizer. Se sorris, eu continuo de boca aberta, mas esboço um sorriso digno de um acidente vascular. Fico perdida no espaço, a realidade bloqueia. Penso sempre que nestas ocasiões o melhor é esperar que o "mau tempo" passe e desviar a cara. Mas o que fazer quando estou contigo? O que fazer quando ficamos sozinhos nalgum lado?... O Universo conspira, é verdade. Onde é que se meteu toda a gente?! Nessas alturas, escolho uma posição defensiva: não olho para ti directamente, não me mexo, cruzo os braços e espero lentamente que o tempo passe, que apareça alguém que me salve daquela arritmia. Mas tu falas comigo como se o meu comportamento fosse normal, como se eu conseguisse entender tudo o que estás a dizer. Será que estranhas quando as pessoas te dizem que eu falo muito ou que até sou simpática? Pergunto-me que parte de ti entende que estás a falar sozinho...

E aquilo de meter o braço por cima dos meus ombros? Mas porquê? Estremeço, estilhaças-me a posição e falas mais baixo de propósito. Descruzo os braços, mas não sei o que fazer com as mãos. Agarras a minha mão direita e continuas a falar enquanto o teu polegar desliza nas costas da minha mão. Eu lembro-me subitamente que sou um ser aeróbio, preciso de ar! Mas parece que a minha laringe estreitou, achas que sou alérgica à tua proximidade? Tenho cara de assustada, não tenho? Até que alguém entra na sala e eu levanto-me de um pulo. Tu calas-te e fica no ar a sensação de que algo foi interrompido, eu fujo.

A pior parte é chegar a casa e não conseguir pensar em mais nada, mas um sonho trata de arranjar tudo para ter um sono descansado. A sala, tu a falares, a tua mão sobre a minha. Eu levanto-me sem largar a tua mão, puxo-te para mim e beijo-te com toda a vontade que tenho acumulada dia após dia, bar após bar, festa após festa. No sonho, o beijo sai perfeito... não há dentes, narizes ou diferença de altura capazes de atrapalhar. Há apenas a certeza que tem que ser assim porque não podia ser de outro modo. Então todo o espaço és tu, estaria perdida se não estivesses comigo ali, sinto que tudo está tão certo, tão naturalmente óbvio... tão bom! Porque é que não é sempre assim? E depois os papéis invertem-se, és tu que tens o controlo da situação. És tu que pressionas o teu corpo contra o meu, és tu que beijas o meu ombro depois de fazer deslizar a alça do soutien. Não é que goste de sentir-me dominada, pelo contrário, mas assim sinto que me queres e é esse desejo que me corta a linha de pensamento e deixa o instinto vir ao de cima. Concentro-me apenas nas sensações, no teu toque e nos sons.

Sons... a campainha. Volto a mim devagarinho e faço uma careta enquanto abro um olho por causa da claridade. Pergunto-me quem será que me está a chatear a esta hora, ainda por cima no meio de um sonho tão bom! Espreito pela porta e fico com a respiração suspensa. Abro-te a porta e entras a albergar um sorriso perfeito, enquanto eu tenho apenas o meu ar de espantada e a boca por fechar. Perguntas enquanto eu cruzo os braços:

- Estou a incomodar?...

9 comentários:

  1. O incómodo é bom e quem não se sente incomodado, fica incomodado porque não está incomodado LOL

    Gosto deste incómodo de que falas :)

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  2. Braços cruzados? Já tinhas umas lições de bons comportamentos e costumes. Que é do apalpanço característico? Onde é que está a parte em que os corpos rebolam pelo chão, as prateleiras que caem, a avó que acorda e pega na caçadeira? Onde é que está todo o sensualismo de ser apanhado pela ex do gajo a meio de uma cena escaldante tipo "crime do padre antero"?
    És uma desgraça...

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  3. Isto n e bem um ligeiro incomodo, e mais akele incomodo, tipo, assim, sei la, murro no estomago. Mas o balhau tem razao. Q e feito das "maldades" tipicas?! Ou mm de maldades tipicas c o padre antero? Alias o padre antero ficava ai ao barulho ate ficava giro! :D

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  4. Claro que está! É de manhã, não há romantismo possível...

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  5. Andas inspirada, miúda! A sério, gostei... muitoooo! :)

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  6. Estava eu aqui entretida quando reparei que isto vai em.. cinco comentários distintos! Cinco?! Meu Deus, ainda há quem se dê ao trabalho de comentar! :D Muito, muito obrigada por conseguirem comentar antes de adormecer depois de ler os posts! lol

    PS: Este post não acaba aqui... acho que ele tem realmente direito a continuar! ;)

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  7. "Muito, muito obrigada por conseguirem comentar antes de adormecer depois de ler os posts"

    Antes de adormecer? Isto soa-me a falsa modéstia... Na minha terra quando a gente se faz de ton o pessoal costuma mandar pro caralho. Por ser pra ti eu vou utilizar um eufemismo e sugiro somente que te deixes dessas merdas...

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  8. Como se nota, esta é a minha terra, portanto eu escrevo o que me apetece e sinto as vezes que quiser! Azarito! :P

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  9. Desculpe idolatrada miss i, eu na verdade não queria "incomodar"!

    O teu "azarito" fez-me lembrar as picardias entre putos da primaria.
    "Ah o meu pai é advogado."
    "Ah o meu pai é trolha e é mais forte que o teu, toma.."
    "Aha mas o meu ganha mais dinheiro, azarito..."

    Agradeço desde já o facto de me fazeres notar que este é o teu canto, se não o tivesses feito, concerteza não me iria lembrar. Agora faz sentido porque é que nunca consegui escrever aqui posts. O que a gente descobre, já viste!? Quanto ao facto de sentires as vezes que quiseres eu estou totalmente de acordo e pronto a ajudar no que for possível a unica ressalva que faço é no sentido de não fazeres muito barulho porque podes acordar os vizinhos...

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