segunda-feira, novembro 07, 2005

Aeroporto

Sempre que estou no aeroporto, fico a observar as pessoas. Não consigo evitar olhar para tudo o que se passa como se o tempo parasse para mim e o meu leitor de mp3 me oferecesse a banda sonora do filme que se desenrola diante dos meus olhos. Até podia estar farta de aeroportos, mas não estou. Estou farta de voar, isso sim. Continuo a adorar a descolagem e a aterragem, mas o resto é sempre tudo igual, podia passar-se em qualquer lado e o cheiro do catering põe-me logo de dieta.

Não sei porque gosto de aeroportos. Talvez pelas sensações diferentes, pessoas diferentes, línguas diferentes. Caras de aventura, caras de saudade, caras de felicidade, caras de tristeza, caras de monotonia (acompanhadas de uma pasta de executivo). Montras de souvenirs. Abraços sentidos, bagagem, seguranças, hospedeiras, filas de check-in, écrans com informação sobre os vôos, buliço de conversas cruzadas e telemóveis, revistas e jornais estrangeiros, avisos em voz alta em várias línguas igualmente incompreensíveis.. fotografias de despedida. As despedidas.. não desgosto delas, fica uma sensação de "até qualquer dia (espero eu)". Ninguém aqui se despede com indiferença, mas sim como namorados que vão ficar alguns dias sem se ver e que se olham como se nunca mais se fossem encontrar.

A minha banda sonora mudou para Leaving New York dos REM. Na "mouche"! É por isto que não há discussões nas despedidas. É capaz de ser mais difícil para quem fica do que para quem vira costas direito à porta de embarque, mas em ambos os casos fica uma nítida sensação de abandono. Eu sinto sempre que abandono qualquer coisa que já faz parte do que sou. Não faço ideia das divisões que tenho dentro de mim, sou de tanto lado que deixei de pertencer onde quer que seja. Tenho sempre saudades das pessoas, dos lugares e das paisagens, do cheiro, do vento, do ar de outros locais onde não estou. Não sei porquê. Talvez um dia volte a sentir que pertenço a algum lado, que a minha "casa" está num sítio especial. Não sei quem dizia que é preciso cortar as raízes antes de voar. É verdade, eu voei.

6 comentários:

  1. ainda só o fiz 2x e não desgostei nada. Ia mais apreensivo ao início mas gostei muito! Quanto às sensações que descreves são uma mescla sempre estranha! ***

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  2. Convém mesmo cortá-las, caso contrário era uma chatice! Mas terá o seu quê de interessante recriá-las, ainda que mantendo alguma flexibilidade. Afinal, és uma cidadã do mundo, cosmopolita na total acepção da palavra! ;)

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  3. É bom arejar as asas e voar, mas é reconfortante sentir que temos algo onde voltar...
    Quanto aos aeroportos, são um mundo muito especial...mais ainda quando se viaja sozinho!

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  4. saviol: check-in e voar.. começa a cair na rotina, acredita! lol

    w.: Gostei da cena do "cosmopolita", acreditas que nunca tinha pensado nisso? :P Mas gostei, thnx!***

    aurora: pois.. mas também é tão reconfortante partir! Pelo menos, para mim é! :)

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  5. Bem andar de avião deve ser muito interessante realmente, pode ser que um dia destes num dos meus ataques terroristas possa também sentir o prazer da partida e da aterragem...

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  6. Também não sei quem é que me mandou a música dos REM.. lol
    O mais interessante são as hospedeiras e o catering.. uhu. Ataques terroristas? Então ach que só vais sentir o prazer da partida :P

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