sexta-feira, outubro 06, 2006

Fado triste

Como almocei mais cedo do que o normal, em vez de ver as notícias fui "presenteada" com um programa da manhã (menos mal porque era na RTP1). Parece que hoje é dia de festejo, acredite-se ou não, estão a festejar o facto da Amália ter morrido há 7 anos. Eu sou a favor de aproveitarmos todos os momentos para festejarmos, quer alguém tenha morrido ou não.

Ok, eu não percebo nada de fado.. é verdade. Sei o nome da Amália pela mesma razão que sei o do Eusébio (não tem nada a ver com lontras) e já vi mais vezes um remate do Eusébio do que ouvi um fado da Amália. Aquele tipo de música não me puxa nada, não sou capaz de ouvir e deliciar-me. Mas posso opinar na mesma: que raio de caretas são aquelas?! Eu sei que os guitarristas têm a mania de fazer caretas ou meter a língua de fora quando prolongam uma nota aguda, mas o que é aquilo? Eu nem ouvi o que é que a Kátia Guerreiro estava a cantar, a minha atenção estava toda na cara que espelhava um sofrimento terrível, um verdadeiro parto sem epidural a cada sílaba. O queixo estava apontado para o PoSAT e a cara de sofrimento a olhar para o tecto só fazia pensar em que tipo de tortura inquisitória é que o tecto lhe estava a infligir. Anda aí tanto actor que não sabe fingir sofrimento e afinal basta aprender a fazer um playback de uma fadista! A única parte chata é mudar o argumento para ter o criminoso a atacar sempre por cima.

Como não estavam satisfeitos, resolveram levar dois guitarristas e procurar populares que quisessem cantar um fado "amaliano". Numa escolha que me pareceu perfeitamente lógica, foram ao mercado do Bulhão. Curiosamente aquilo não caiu e nenhuma mulher tinha sotaque do norte. Acho que as reportagens sobre o fecho do mercado são fictícias, quando se deu a confusão toda não havia uma entrevistada que falasse sem sotaque.. seriam figurantes?
Aí percebi finalmente o sofrimento da Kátia Guerreiro, tive um momento de escuridão total: aquelas "fadistas" resolveram abrir a goela e nuns minutos que duraram uma eternidade mostraram que é possível saber de cor uma música, ouvi-la mil vezes por dia, adorar a Amália e não acertar numa única nota, bravo! Os meus tímpanos pediam clemência, o meu queixo deixou-se cair de terror e desconfio mesmo que as celulazinhas que interpretam o som para sinais eléctricos estavam a planear um suicídio colectivo. A felicidade é que no meio de tanta tragédia, o microfone deixou de funcionar (partiu-se), entregou a alma ao criador e aposto que nunca pensou que pudesse vibrar tão sofrivelmente sem ter sentimentos.

Sim senhor, aquilo é o que eu chamo de homenagem! Ou talvez de crime público, não sei.

4 comentários:

  1. Confesso que fado só mesmo Mariza... e essa não costuma fazer caras de tanto sofrimento (acho eu)... Mas essas homenagens são sempre brilhantes... Mas deixa, que num domingo à tarde poder escolher entre o Marco Paulo e a Floribela também é sempre bom... a TV portuguesa é o máximo!

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  2. Até podia dizer que sotaque do Porto se prende com "arruaceiros" em vez de "arroaceiros", mas vou ser simpática com os seguidores da Amália!
    Por sotaque do Norte não entendo "iágua", "ialma" nem outras palavrinhas quase bem pronunciadas ou outras que nem sei o que querem dizer, mas sim a maneira geral como tu e os teus vizinhos falam.. hi hi (é aquele sotaque que faz com que toda a gente abaixo do rio Douro se vire e diga "Homem do Norte!"; o ouvido também dá o alarme ao sotaque açoriano, alentejano, madeirense, algarvio.. não se sintam "especiais").

    Aurora: também não acho a Mariza teatral... yeaps a TV portuguesa é um hino à TV por cabo. Nem sei porque é que a outra perde tempo em publicidade, nós vemos TV portuguesa, nós sabemos porque queremos ter TV Cabo! lol

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  3. Houve do verbo houvir..

    Eu houço..
    Tu houves...
    Ele houve..
    Nós houvimos
    Eles hovem...
    Vós fodei-vos mais a merda dos erros...

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  4. Parece-me que escolhi melhor o título do post do que tinha pensado!...

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