sexta-feira, agosto 10, 2007

Terceira pista: usar a realidade

(continuação)

Liguei o computador novamente, mas desta vez fui direitinha ao mail. Lembrei-me da última pesquisa no google e como podia ter visto o mail mais cedo. É certo que agora não podia fazer nada, mas não conseguir evitar a sensação de que podia ter chegado ali mais depressa. O triste de ter mais de uma conta para estas coisas é que nunca sabemos exactamente quem usa qual. Abri todas e fiquei ansiosamente à espera de um mail sem “viagra” no cabeçalho. Antes de desanimar por completo, li o SPAM de alto a baixo. Efectivamente o filtro fez uma boa separação (não pode correr sempre mal). Estava desolada, ou não tinha percebido qual mail era o certo, ou realmente a pista não apontava para ali. Ora bem, já que estávamos em Portugal, dirigi-me ao correio em cima da mesa da entrada. Vasculhei as contas todas e não encontrei nada digno de registo. Lá me calcei e desci até à caixa de correio. Finalmente qualquer coisa! Um postal ilustrado sem selo. Pareceu-me bem, soava a pista. Não tinha nome, mas tinha uma rua.

Sentei-me ao computador (novamente), procurei onde é que a rua ficava e não fui lá muito bem sucedida. Procurei nos mais variados sítios e nada, a rua não existia e se existisse não era neste país, o que não me ajudava em nada de qualquer modo. Ocorreu-me subitamente que mais importante do que saber o que se escondia no postal era mesmo tomar o pequeno-almoço. Saí de casa, mas só depois de inspeccionar rapidamente todas as divisões em matéria de candeeiros ou coisas estranhas deixadas nos móveis. Nada... decidi então dar toda a minha atenção a um croissant de chocolate na pastelaria no final da rua. Quando acabei, tirei o postal da mala e fiquei a olhar para ele. Não tinha selo, não tinha nome, não tinha mensagem, só aquela rua “desaparecida”.

Apesar de tudo, tinha um forte pressentimento dentro de mim. Saí da pastelaria, percorri as ruas banhadas com o sol fraco das dez da manhã (vista rara para mim) e entrei num supermercado mais escondido, mais calmo. Não saía de casa com vontade de ver nada há alguns dias, achei que a dor estava a passar, mas pelas razões erradas. Não entanto, não evitei um leve sorriso quando vi que ainda havia uma caixa, comprei-a, escondi-a dentro da minha mala e esperei que o meu sexto sentido, tão poucas vezes usado, estivesse certo. Se calhar era só uma dose gigantesca de esperança seguida de um grande balde de água fria. Tentei não pensar que estava certa, era melhor esperar para ver. Mas a luzinha cá dentro recusou-se a apagar, o que me obrigou a escondê-la o melhor possível para não pensar nela. Nestas voltas onde brigava com o meu próprio pensamento, dei por mim na rotunda mais bonita e mais movimentada ali do sítio. Parei por momentos a olhar para a estátua a jorrar água, impassível no meio de tanto carro e senti-me mesmo estúpida.

Estúpida por duas razões (e haviam mais de certeza, mas pronto), primeiro porque tinha parado de repente no meio do passeio e levei com uma gorda qualquer, em segundo porque aquela rotunda era a imagem do postal! Incrível como não ligamos às coisas perto de casa, bem que a imagem do postal me parecia familiar mas, pronto, fontes em rotundas é o que não falta nas capitais europeias. Senti um nervoso miudinho a correr o meu corpo porque não sabia o que fazer a seguir. Resolvi rodear a rotunda a pé, podia ser que me estivesse a escapar algo. Quando dei precisamente metade da volta, olhei para o sítio de onde tinha saído e vi um pequeno quiosque com alguns postais num mostrador exterior. Disse algumas asneiras entre dentes e voltei ao sítio de onde tinha saído. Vi imensos postais iguais ao meu enquanto entrava na loja. Eu levava o postal na mão e a moça que estava a atender reparou nele. Riu-se e só me disse:

- Não estava à espera que chegasse cá tão cedo!
- Estava à minha espera?!

Não me respondeu, mas riu-se e achei que a minha pergunta era retórica de qualquer modo. Ela pegou num telemóvel, pediu-me para esperar e, pouco depois, foi a vez do meu telemóvel tocar. Ri-me desconfortavelmente e suponho que tinha um ar de quem não controla nada do que se está a passar, um bocadito miserável porque comecei a duvidar se conseguia chegar ao fim.

- Não fique assim! Vai ver que é uma boa surpresa!

E piscou-me o olho. Eu acreditei. Acreditei numa pessoa que eu nunca tinha visto na minha vida. Acreditei porque obviamente ela fazia parte do jogo e eu não tinha como duvidar. Fiquei com a ideia que Lisboa inteira sabia o que eu não sabia. O que estava no final das sete pistas. Lembrei-me do pote de ouro no final do arco-íris... que também tem sete cores. Desejei que não fosse ouro, de qualquer modo. Respirei fundo e ainda perguntei, antes de olhar para a MMS que tinha acabado de chegar:

- Não me vai ajudar a decifrar, pois não?
- Não, até porque não sei o que é. Mas mesmo que soubesse, acho que prefere chegar lá sozinha!

Se calhar nem preferia, mas pronto, não tinha hipótese. Agradeci e comprei uns rebuçados só para não parecer muito mal-educada. Estava um bocado atordoada.

3 comentários:

  1. Qualquer desculpa é boa para comprar rebuçados...

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  2. Posso trabalhar numa loja dessas?;)

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  3. Se alguma vez abrir uma loja de doces, considera-te contratada! Até já temos o primeiro cliente e tudo... he he

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