sexta-feira, agosto 31, 2007

Quinta pista: do esterco ao sol

(continuação)

Uma das primeiras coisas que aprendi sobre estes escaravelhos (e que adorei) é que simbolizavam o deus-sol. Ora o que é que este deus fazia? Entretinha-se a mover o sol no firmamento, o que é extremamente parecido (ou não) com um escaravelho a mover a sua bola de excremento. Sim senhora, temos um escaravelho que gosta de colocar os seus ovos em locais pouco... comuns, vá. Está ligado ao deus-sol, assim como ao renascimento, renovação e ressurreição. A primeira coisa que me ocorreu foi a campanha dos R's para apelar à reciclagem. A minha mente aterrou literalmente no Egipto e o meu pensamento estava todo enrolado em hieróglifos. Via escaravelhos, burros, o Romeu e a sua Julieta a escrever postais, além de uns tantos escaravelhos a sair da fonte da rotunda lá em baixo.

O que me chamou à razão e devolveu à terra com alguma racionalidade foi o meu estômago: comida! Pois sim, já era quase hora de almoço e eu não tinha preparado nada. Apesar de me apetecer fazer qualquer coisa para me distrair, só via escaravelhos à frente portanto decidi ir almoçar fora. O barulho dos carros e das pessoas distraiu-me facilmente das areias e pirâmides egípcias, mas continuava com os escaravelhos à volta. Especialmente depois de ler que um “primo” africano desses escaravelhos podia atingir os 9cm. Isso é quase a minha mão aberta, uma escala no piano! Se um destes me aparecesse à frente, ainda era capaz de esfregar os olhos umas duas vezes para ver se estava a ver bem antes de fugir.

Lá desci a rua alegremente, com a mala a tiracolo e um livro na mão, livro esse cheio de bilhetinhos e um postal. Entrei num restaurante qualquer que me pareceu ter uma lista simpática para sábado e escolhi um lugar virado para a rua. Cada vez que saio de casa é para ir para longe, até me esqueço de sair e passear nas redondezas. O facto de estar ali sentada a olhar para a minha rua de sempre causava-me um certo bem estar pela noção de familiaridade. Suponho que as surpresas já estavam em grande número só para um dia e permiti-me a um certo relaxamento. Olhei em volta para chamar um empregado e reparei que alguém tinha deixado um daqueles jornais grátis que distribuem no metro em cima de uma cadeira. Resolvi folheá-lo só para passar o tempo. De repente voltei a sentir-me estúpida, mas desta vez era uma mistura de estupidez e ignorância pura.

Num dos cantos reservados à publicidade, lá estava um aviso sobre uma exposição egípcia com algumas coisas trazidas de outros museus europeus. Uma exposição egípcia ali na minha “terra” e eu não tinha dado por nada?! Tenho mesmo que prestar mais atenção ao sítio onde vivo. Confesso que fiquei altamente envergonhada e, apesar de não saber quem estava por trás das pistas, desejei secretamente que não se tivesse apercebido daquela minha falha. Soava-me a coisa grave, afinal, eu nunca fui uma grande fã de História, mas a coisa mudava de figura quando o Egipto, a Suméria ou a Grécia entravam em cena (não por esta ordem, claro). O almoço chegou finalmente... tentei comer devagar, mas a excitação e curiosidade cresciam tanto dentro de mim que me vi no metro enquanto o diabo esfrega o olho. A viagem ainda demorou um bocado, mas quando saí da estação e olhei os grandes cartazes com escaravelhos na parede do museu, senti o dever cumprido. Mesmo que não descobrisse a sétima pista, tinha chegado à sexta e isso tudo numa manhã de sábado era de louvar.

5 comentários:

  1. Foi o título mai bonito até agora, tocou-me cá dentro! ;)

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  2. só para aqui deixar um Olá!

    :)


    (depois, ler-vos-ei com mais calma)

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  3. W.: Também é o meu título favorito da saga toda... lol

    SoNosCredita: Olá!!! :D

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  4. Vamos a ver o que o museu traz de novo a esta história fascinante...

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  5. Fascinante é capaz de ser um bocadinho demais, mas muito obrigada!! :D

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