quinta-feira, março 10, 2005

Eu com um funil na cabeça

Saltei os degraus, de dois em dois, conforme subia até ao andar certo. Não sei se tornava a subida mais rápida ou mais lenta porque a minha cabeça fervilhava em contradições. Não sabia se queria descer ou se queria subir. Quer dizer, eu sabia que queria subir, o problema era depois quando tivesse que descer. Será melhor subir tudo e depois descer imenso ou subir até metade e só ter essa metade para descer? Nunca soube equacionar estas coisas. Arrisco. Neste caso, as minhas pernas continuaram a galgar os degraus. Dei por mim em frente à porta de madeira. Quer dizer, não é bem de madeira, acho que é daquelas que por dentro têm aquela estrutura sólida em ferro, mas o revestimento exterior é madeira. Não me lembro se os degraus que subi eram de madeira ou de pedra, mas de momento, estou petrificada à porta. Apetece-me fugir daqui! Mas não me mexo, nem sequer tento bater à porta. Não sei exactamente se devia cá estar. Incrível como os 30km parecem tão pouco em relação à distância entre minha mão e a campainha. Lembrei-me de uma situação semelhante, já há muitos anos. Nessa altura, não tive coragem de bater à porta, fiquei apenas a observá-la e depois fui-me embora. Suponho que ia ficar curiosa até hoje, se não fosse alguém a encorajar-me a ir de novo e, dessa segunda vez, entrei mesmo. Parece-me uma boa razão para tocar, não quero pensar "no que poderia ter sido" durante esta noite toda.

Cheia de coragem, levanto a mão até à campainha mas arrependo-me a meio. Tenho o braço estendido no ar e não sei o que fazer. O que é que vou dizer depois? Eu também não sei o que é que estou aqui a fazer! Enquanto penso nisto, tenho uma reacção involuntária e toco à campainha. A primeira coisa que me ocorre é fugir! Mas continuo parada, começo a rezar para que ninguém tenha ouvido a campainha. Pensando bem, até era melhor que alguém ouvisse e resolvia-se a situação de uma vez por todas. Começo a ouvir passos em direcção à porta e eu começo a andar para trás. Se calhar, o melhor era mesmo pirar-me! Abres a porta. Eu não sei o que dizer, pareces surpreendido, mas ao mesmo tempo, pareces feliz de me ver. Bem, suponho que esse sorriso me pode ajudar a esboçar um também. Só não sei bem o que estou cá a fazer, portanto, vou esperar que tu não me perguntes.

"Olá.. ! Por aqui? Então? Perdeste-te?!"

O teu bom humor sempre a salpicar o que dizes.. Pois claro, tinhas que perguntar, era óbvio que sim. A resposta é que não é assim tão óbvia, pelo menos, para mim não é. Como não tenho nada para responder, limito-me a encolher os ombros e a sorrir. Sim, já fiz das tripas coração (estes últimos minutos fizeram-me entender muito bem esta expressão) para chegar aqui, para estar aqui à tua frente. Estar a perguntar-me o porquê também já é pedir demais. Até és capaz de estar no teu direito, mas eu começo a sentir-me estúpida por aqui estar. Acho que reparaste no meu ar embaraçado e começaste a rir.. isso é bom, pelo menos alivia a tensão. Engraçado estar a olhar-te nos olhos, nestas situações costumo observar minuciosamente o chão. Aproximo-me de ti, o suficiente para poder sentir o teu cheiro. A situação está extremamente estranha e tenho pena que tenhamos parado de rir. Lembro-me da Maria Rueff e do Herman José a protagonizar uma cena de tensão sexual entre os "seus" alentejanos no saudoso Herman Enciclopédia. Acho que agora foi a primeira vez que desviei o meu olhar, mas pelo menos, serviu para pôr um sorriso novo na cara. Respiro fundo e aproximo-me ainda mais de ti. Deixo o meu nariz tocar no teu nariz e fecho os olhos devagar..

6 comentários:

  1. Lindo beautiful très jolie. Bem espero bem que a porta nunca se feche para ti...

    Beijo

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  2. Muito bonito. Não faz o meu género, mas não deixa de ser bonito. Podias talvez meter umas correntes, uma cave escura com uma lâmpada fraquinha, umas coleiras de bicos e... bom... esquece, está muito bonito.

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  3. Já ontem tinha lido o texto e gostei muito...

    Mas...tem sequela? ;)
    (espero que sim...porque há um olhar e um sorriso que nunca desaparece...)

    :)

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  4. Sequela?.. Nem pensei nisso, acho que a história acaba ali! Mas sim, há sorrisos que nunca desaparecem!.. :)

    Correntes e caves escuras? Bem, é uma ideia para inovar e escrever algo de jeito! lol

    Já agora, eu não ia pôr este texto online.. portanto aos que gostaram de o ler, a "culpa" é ali do Sr. Balhau! ;)

    Beijocas a todos e muito obrigada por comentarem!***

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  5. Obrigado, "Sr. Balhau", por fazeres com q esta menina partilhe connosco a beleza do que escreve!;)

    E obrigado, menina... :)

    Ah, e sempre que precisares de encorajamento... os amigos são para as ocasiões, certo?

    Nunca deixes de bater às portas todas, porque há sempre alguém disposto a deixar-te entrar...

    Um grande grande grande abraço***

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  6. Lá se foi o anonimato! lolol

    Ainda bem que gostaram.. vocês são um "público" excelente! Além de lerem, ainda se dão ao trabalho de comentar.. e pior: dizem que gostam!!

    Muito, muito obrigado!!***

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