domingo, dezembro 10, 2006

Encontro por aí...

Estava extasiada com as iluminações, os enfeites.. até com o frio! Claro que estava feliz da vida, conforme os dias entram em contagem decrescente até à noite de 24 de Dezembro (Natal é a 24, digam o que disserem, o meu cérebro não processa outra data), a minha idade vai reduzindo e torno-me numa criancinha a vibrar com as músicas de Natal. Com as prendas não vibro tanto porque já não têm o significado que tinham. Sou incapaz de percorrer as ruas iluminadas sem "dançar" um bocadito, cantarolar qualquer coisa que tenha guizos a definir o ritmo e não é o cachecol nem o vapor que sai da minha boca que me faz arrepiar de frio. Estou feliz, verdadeiramente feliz.

Quando te vi no meio do passeio a sorrir, acordei de repente. Ia tão entretida de pescoço ao alto a ver tudo o que o meu horizonte não alcança que nem me lembrei que ia ter contigo! Incrível.. cá estou eu. Tão longe de casa, tão longe de tudo e bem no meio da rua, das iluminações, das pessoas carregadas de sacos, das crianças, da camada extra de roupa e do barulho do gelo a desfazer-se por baixo das botas. Cá estás tu, como prometido, como prenda de Natal antecipada. Impossível não chegar ao pé de ti, abraçar-te e dar-te um grande beijo de boas-vindas. Afinal o Natal branco começou mesmo mais cedo. Passeámos um bocadinho de mão dada pelas ruas da cidade, mas eu já não fazia nada a não ser olhar-te nos olhos e tomar muita atenção ao que dizias. Acima de tudo, sorrir... rir-me contigo, rir das tuas piadas, rir de tudo e nada, rir só porque estou contigo. Descobrimos a cidade, redescobrimos o frio que faz quando tiramos o cachecol que tapa a boca e o nariz...

Chegámos ao hotel e desapertámos os cachecóis, a diferença de temperatura era grande. Já no corredor do andar do nosso quarto, encostaste-me devagarinho à parede e apontaste para o sensor de movimento. Esperámos que as luzes se apagassem. Agora não sinto frio, quando nos beijamos, a sensação é tão quente que sinto o gelo a derreter lá fora...

domingo, novembro 26, 2006

Era uma vez na Arábia, parte II

(...e Bin Laden entrou na caverna.)

Ao ver Al-Face morto em cima de um monte de moedas entrou em pânico:
- O Francisco Louçã descobriu-nos! O Bush não nos pode continuar a financiar-nos para aqui, avisa o Gates que está tudo cancelado! Temos que nos mudar rapidamente! Este é um aviso extremamente claro!!
- Mas ó patrão, será que não foi só um campónio qualquer que nos descobriu?
- Achas mesmo!? E não levava nada?! Ficava morto ali?! Só por essa ideia estúpida, vai ficar sem cabeça!
E zás... cortou a cabeça a Al-Garve, o primeiro amor de Al-Guidar. Os homens de Bin Laden carregaram os camelos e burros para fugir o mais rapidamente possível, mas estavam com problemas em carregar um pote porque o burro não aguentava com o peso e teimava em cair para o lado. Alguns homens resolveram averiguar o problema do burro e descobriram Al-Jazeera dentro do pote. Assim que foi descoberto, só um pensamento atravessou a mente de Al-Jazeera: "Quem me dera estar contente num lugar longe e com o amor de Al-Guidar!". Meio desejo concedido mais tarde, encontramos Al-Jazeera um pouco atordoado nas Bahamas, completamente hilariante, ria-se imenso mas não sabia bem de quê.

De volta ao local do crime, Bin Laden tentava perceber o que se tinha passado. Não queria fazer perguntas porque se recusava a admitir que um homem tinha desaparecido, mas também não queria dar parte fraca face ao medo espelhado na cara dos restantes homens. Um pouco temeroso de magia negra, deixou ficar lá o pote, o burro e decapitou os homens que eram testemunhas (Al-Entejo e Al-Mada, 2º e 3º amores da vida de Al-Guidar). Lá continuou o seu caminho com burros e camelos com um único objectivo: Andorra e o seu paraíso fiscal.

Uns quarteirões ao lado, Al-Guidar tinha finalmente decidido o que queria pedir como desejo. Levantou-se, pegou nas mãos de Brad-Pitt e disse bem alto: "quero que deixes de ser génio e que fiques comigo para sempre!". A face de Brad-Pitt iluminou-se de felicidade e fechou os olhos à espera da magia de que ia ser alvo.
Passados uns dez minutos de espera e um bocado aborrecidos de olharem um para o outro, acharam que aquele desejo não devia ser concretizável e tentaram outros tantos, entre os quais uma árvore que dava ouro, um hamburguer da MacDonald's que não cheirava mal, um Vítor Neves com perguntas racionais, um país sem corrupção... quando pediu para tornar encarnado um tomate verde chegou à conclusão que Brad-Pitt não tinha poder nenhum!

Entretanto nas Bahamas, Al-Jazeera tinha chocado com o 10º amor da sua vida em biquini, as mulheres na praia sucediam-se a um ritmo alarmante! Ao longe viu um homem a caminhar na sua direcção e, sem saber por quê, sentiu um arrepio na espinha. Apesar de se estar a aproximar, ele não sabia se era homem ou mulher (vinha com uma tanga e sem mamas). O homem chegou-se ao pé dele, cravou-lhe dois beijos na cara e apresentou-se: "José Castelo Branco, muito prazer! Ai, que barba tão giraá! Que classe!!". Al-Jazeera teve a certeza que não era homem nem mulher, só queria fugir. Reparou então numa peça ao lado do homelher: uma massa disforme que parecia sorrir. Pensou que estava sofrer efeitos de insolação, sentiu-se tonto e caiu redondo no chão. Quando acordou, o homelher estava a fazer-lhe respiração boca-a-boca, louco de raiva porque beijar semi-homens era contra as leis de Alá, atirou-se ao mar decidido a morrer por afogamento. Ia já muito longe da costa e quase a desfalecer quando uma tartaruga gigante o apoiou e levou até uma praia, onde finalmente se deixou vencer pelo cansaço.

Entretanto Al-Guidar reparou que lhe tinham assaltado a loja porque nem o marido nem o empregado lá estavam. Completamente desolada por ter ficado sem dinheiro, resolveu ir à procura do marido enquanto Brad-Pitt tentava suicidar-se inalando creme depilatório. Al-Guidar percorreu as casas de todos os conhecidos e desconhecidos perguntando pelo marido e cunhado, mas nada, ninguém sabia nada do seu paradeiro. Desolada, passou três dias em greve de fome, fitando o horizonte enquanto Brad-Pitt curtia a sua depressão. Ao saber da triste história destes dois que tinham tudo para ser felizes, Paulo Coelho voou do Brasil para ensinar o verdadeiro sentido da vida a Al-Guidar e a Brad-Pitt. Ensinou-os a lutar, a ler as estrelas, a serem uns verdadeiros Merlins da vida, reconhecer sempre as coisas boas, não recordar as más, aprender a viver e a lutar porque há sempre outra oportunidade espiritual! Extremamente agradecidos a Paulo Coelho (que lhes cobrou apenas umas percentagens do livro "O Alquimista"), resolveram rumar à terra prometida, algures naquela direcção.

Do outro lado do mundo, Al-Jazeera acordava ao som de uma música contagiante, estava uma mulata ao lado dele que o convidou a dançar. Al-Jazeera mal conseguia controlar o rabo e não parava de dançar, aprendeu salsa em menos de cinco minutos. Os olhos verdes rasgados da mulata prendiam-no e nunca mais se separou dela. Ao fim de um mês, aprendeu a falar espanhol, entendeu que estava em Cuba, e nessa altura era já versado em Hemingway e rum, puros ainda lhe faziam tosse. Aprendeu depressa as leis do mercado negro e refez a sua vida com a mulata a vender chás calmantes com sabor a maçã que disfarçavam a fome. A mulata, de seu nome Enazibel, mostrou-lhe o que era o verdadeiro amor e filhos mestiços. E claro.. muita salsa! Viveu feliz.

Voltando atrás, Al-Guidar e Brad-Pitt não eram felizes, tinham muitas desavenças conjugais e decidiram que era melhor separarem-se.
Nessa altura estavam a fazer uma busca espiritual na Índia, ele conheceu a bela Angelina-Jolie e, sem lhe contar nada do seu passado como génio, abraçou as causas humanitárias e fingiu aceitar os filhos que ele sabia que não eram dele, bastava olhar para a pele das crianças, por Alá!
Al-Guidar entrou em depressão, converteu-se numa mulher da vida e, alguns dias depois, na taberna "estamos-todas-cá" conheceu Bin Laden. Ele apaixonou-se imediatamente por ela e levou-a para Andorra. Aí aprendeu a fazer ski, ser muito bem paga para dormir com magnatas e a ser feliz.

(A programação normal do blog vai ser retomada em seguida)

sexta-feira, novembro 24, 2006

Era uma vez na Arábia, parte I

Era uma vez um senhor chamado Al-Jazeera, era muito trabalhador e correcto mas tinha um irmão rico que era exactamente o oposto dele. Al-Jazeera trabalhava para o irmão que tinha uma esposa lindíssima por quem ele estava irremediavelmente apaixonado. Por sinal, a bela moça tinha sido obrigada a casar e estava apaixonada pelo irmão mais novo, ou seja, o pobre Al-Jazeera.
Um dia, estava ele a passear no deserto e viu uma grande agitação no horizonte, escondeu-se atrás de umas rochas porque temia uma tempestade de areia. Escondido atrás das rochas, viu alguns cavaleiros aproximarem-se... muitos! Ficou pasmado quando viu o líder deles: Bin Laden! Era o ladrão mais procurado no país todo e a sua quadrilha era numerosa. Bin Laden aproximou-se de uma rocha enorme e gritou: "Abre-te Sésamo!". Perante o olhar espantado de Al-Jazeera, a enorme pedra mexeu-se e toda a quadrilha entrou num buraco que ficou a descoberto, a rocha voltou a tapar o buraco quase instantaneamente.

Assim que a quadrilha se foi embora, Al-Jazeera correu até à pedra enorme e gritou: "Abre-te Sésamo!". A pedra mexeu-se e ele entrou... a caverna estava repleta de ouro e vários tesouros! Como era uma pessoa medianamente desinteressada, passeou um pouco mais na caverna a pensar que talvez pudesse levar uma coisa ou outra para montar o seu próprio negócio, até que viu uma lâmpada semelhante à do Aladino. Correu a apanhá-la, esfregou a lâmpada e nada. Nada de génio, nada de desejos, nada. De qualquer maneira, levou a lâmpada no bolso, tirou um ou dois cordões de ouro e voltou a sair da caverna.

Quando Al-Jazeera chegou à loja no dia seguinte, foi a correr ter com a jovem Al-Guidar (a mulher do irmão) para lhe contar o que tinha visto na caverna e entregou-lhe a lâmpada como prova de que estava a falar a verdade. Assim que a moça se viu sozinha, começou a esfregar a lâmpada e saiu mesmo um génio. Não era bem o que ela tinha em mente mas ficou muito agradada, o génio era um rapaz louro muito bem parecido que dava pelo nome de Brad-Pitt. Brad-Pitt explicou-lhe que era novo naqueles números e que não tinha grande jeito para magias.. tecnicamente só tinha direito (e capacidades) a realizar meio desejo. No entanto, Brad-Pitt apaixonou-se por Al-Guidar assim que a viu e ficou a pensar num esquema para a levar dali, apesar de não ser muito bom em magia. Al-Guidar ficou um pouco triste, mas como optimista que era, achou que meio desejo era melhor que nenhum! Não querendo desperdiçar o meio desejo em vão, pediu ao Brad-Pitt para esperar um pouco até tomar uma decisão.

A verdade é que quem tinha direito ao meio desejo era Al-Jazeera pois tinha sido ele o primeiro a esfregar a lâmpada. No entanto, o génio estava no seu momento de depilação peitoral e quando finalmente saiu da lâmpada, deu de caras com Al-Guidar e presumiu que tinha sido ela a esfregar a lâmpada também da primeira vez. Durante isto, o irmão mais velho de Al-Jazeera, Al-Face, tinha estado a escutar atrás da porta porque tinha ideia que a mulher estava a falar com alguém... seria um amante? A pena para adultério era decapitação e Al-Face achava que Al-Guidar merecia a cabeça, não seria a mesma sem aqueles caracóis ruivos a cair-lhe pelos ombros! Sendo assim, ignorou o caso extra-conjugal mas tentou descobrir quem era o amante da mulher, trepou à janela e viu Al-Guidar sentada na cama com um musculado louro ao seu lado. Percebeu rapidamente que não tinha qualquer hipótese contra um homem depilado e resolveu libertar-se da frustração desabafando com o irmão. Al-Jazeera ficou com o coração destroçado e resolveu contar-lhe o segredo da caverna. Como ambos tinham perdido o amor, só lhes restava mesmo a ambição: pegaram nums camelos e foram até à gruta para atestar os animais. Esconderam-se atrás de umas rochas, viram a quadrilha de Bin Laden chegar e partir e depois entraram na gruta. Uma vez lá dentro, Al-Face ficou maravilhado! Até ao momento, tinha a firme convicção que o irmão tinha estado a gozar com ele, mas depois subiu a um monte de moedas de ouro, saltou, nadou, colocou coroas na cabeça... estava tão feliz que o coração dele não aguentou e fez-se em ketchup.

Al-Jazeera entrou em pânico: o irmão morto e o amor da vida dele nos braços de um louro depilado! Pior era impossível! Ouviu uns barulhos do lado de fora e, em desespero, escondeu-se dentro de um pote enorme que lá estava. Ouviram-se as palavras "Abre-te Sésamo" e Bin Laden entrou na caverna.

(continua...)

segunda-feira, novembro 13, 2006

O quinteto maravilha

Pois bem, a minha colega (colega desse escol que é o grupo das "Misses") Miss Perfect, lá resolveu tornar-me numa feliz contemplada (a sério) neste jogo e meteu-me também ao barulho. Esta é já a segunda vez que me vejo nestas andanças por isso tive que me esforçar ainda mais do que da outra vez... o que vale é que eu sou uma gaja cheia de manias!...


1. Apesar de ter a leve impressão que é irritante a longo prazo, eu estou sempre a rir! Sei que daqui a uns cinco anos (no máximo) serei a última cara à face da Terra que vai ser escolhida para fazer publicidade a um produto anti-rugas. Ainda mais idiota (e esta tiveram que me dizer porque eu tristemente não dava por ela) é que não só falo pelos cotovelos, como corro o risco de arrancar um olho a alguém que passe perto de mim enquanto falo porque a minha diarreia verbal é acompanhada de uma fascinante linguagem gestual. Quanto ao mexer muito as mãos, já dei por mim a falar ao telemóvel e a explicar com as mãos, acredito que a pessoa do outro lado tenha percebido muito melhor... Quanto ao sorriso, a minha sorte é que até tenho a cremalheira completa e razoavelmente branca...


2. Ok, carros. Pronto, o problema não são bem os carros são mais propriamente os Audis (tirando o A2, "balha-me Deuz"). Eu reajo à passagem de um Audi como o meu cão reage quando eu lhe mostro um bocado de presunto e faço círculos com ele. Mas há algum carro mais bonito que um A3, um A4, um A6, um A8, etc ou um TT com aquele azul lindo??
Rapazes, não venham cá com histórias porque eu até já tive oportunidade de engatar uma miúda por causa de um Audi... E esta, hein?!


3. Adoro andar descalça!
Pronto é isso... não sou capaz de andar de salto alto, acredito que seja muito elegante, mas eu a cair de uma escadaria não me soa nada a elegância. Só usei umas quatro vezes em toda a minha vida e fui sempre sortuda o suficiente para ficar em mesas com toalha até ao chão, assim fiquei o tempo todo descalça (aliás, saltos altos são das poucas coisas que me fazem estar muito tempo na mesma posição, sentada e quieta). Gosto muito de ténis, mas andar descalça é mesmo uma alegria... Deixem o chão com taco de madeira vir até aos meus pezinhos!! Provavelmente demoro a curar constipações por causa disso, mas andar calçada em casa é um atentado à liberdade. (Não tenho fotografias dos ditos porque foram submetidas a concurso... esperamos o veredicto final!)


4. Por alguma razão dúbia, quando preciso de estar concentrada para resolver qualquer coisa preciso de estar a fazer outra coisa ao mesmo tempo. Quando estou a estudar, normalmente estou a "cantar" qualquer coisa ou a fazer desenhos de coisas que não têm nada a ver. Quando estou ao computador, ponho-me a jogar "Solitário" enquanto revejo as coisas mentalmente para encontrar ou corrigir erros. Já fiz um exame do princípio ao fim ao som de um martelo pneumático e não dei por ele até acabar o exame! Eu sei que é estúpido, mas não me consigo concentrar se estiver tudo em silêncio e isso explica a minha aversão às bibliotecas (excepto à do ciclo onde se pescavam os peixes do aquário com clips).


5. E por último, sou uma verdadeira e incontestável fã de desenhos animados! Ainda por cima vejo tudo o que seja da Disney ou da Pixar, sou muito selectiva... cof cof. Não sei se tem alguma coisa a ver com o facto da minha época festiva favorita ser o Natal, acho que a minha parte de adulta é um bocado deficitária em certas (muitas) áreas... mas pronto, acho que podia ser pior!! E para imagem final, deixo-vos com uma curtíssima metragem que se chama "For the birds" e que quase roubou o filme que se seguiu. Suponho que depois disto, a próxima vez que olharem para mim deve ser deste estilo:


Agora vem a parte que me dá gozo, entalar mais 5 pessoas! E o pessoal que venceu o renhido casting é o que se segue:

O rookie Max
A sempre-no-topo-da-sua-performance The Bitch
O Balhau que se raspou da última vez
A doce Catarina
E a gémea Ana

Come on... make my day! ;)

terça-feira, novembro 07, 2006

Uma fotografia com sabor a morango

O teu pai dizia que eram "calças de circo" e remungava entre dentes sempre que as trazias vestidas. Eu nunca lhes liguei muito, mas aprendi a gostar delas por causa desta fotografia. Sempre tiveste um estilo bastante teu, é impossível olhar para ti e não reconhecer isso. Ainda tens aquele hábito de ter sempre uma caixa de pastilhas de morango no bolso, raramente te apanhei a passear sem estar a mascar isso. Não costumo aceitar as que me ofereces, só quando quero enganar a fome, mas gosto imenso do cheiro a morango que fica a pairar no ar à tua volta.

Não sei se te lembras desta fotografia, provavelmente sim... estamos os quatro de costas para a falésia e com o cabelo no ar! Já foi há algum tempo, mas ainda me recordo muito bem da força do vento. Foi ali que aprendi a gostar das tuas calças, o vento era tanto que as calças torneavam perfeitamente as tuas pernas. Esta fotografia não me deixa mentir ou esquecer esse fim de tarde. O que mais me orgulha é o brilho nos teus olhos e o sorriso enquanto olhavas para mim, estava ainda a começar. Os altos e baixos que se seguiram... não foram muitas as ocasiões, mas os baixos foram mesmo cavados. Os bons momentos são tantos que não me consigo lembrar de todos, mas o dia desta fotografia está bem presente desde que acordei até que adormeceste no carro durante a viagem de volta (dizias tu que nunca adormecias em viagem).

É bom continuar a ver o brilho nos teus olhos, é bom continuarmos a rir sem parar. É bom rir só de te pensar em ti. Já não tens aquelas "calças de circo", mas ainda acordo com o cheiro a morango na almofada que não uso. É um tesouro que guardo dentro de mim e que só tu me dás, é um acordar doce.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Outro Outono

Nesse dia cheguei tarde a casa, andava cheia de trabalho. Tinha tanta coisa para fazer que já não bastava escrever na agenda, precisava mesmo de memorizar algumas coisas. Estar constantemente a rever tudo o que tinha que fazer criava-me uma certa dificuldade em desligar ao chegar a casa. A informação toda que voava de um neurónio para outro toldava-me a fome, a sede, a vontade de fazer o jantar e de ouvir música (televisão foi coisa que nunca me atraiu).

Nesse dia lembrei-me de inventar qualquer coisa para relaxar, fui buscar um cobertor grande, puxei o sofá para trás, tirei a mesa da frente e estendi o cobertor no chão. O sofá era de facto mais confortável, mas a coisa compôs-se com uma ou duas almofadas e música muito baixinha. Deitei-me ali, a imaginar como seria se eu de facto tivesse uma lareira. Não sei quanto tempo fiquei assim, provavelmente adormeci. Despertei com o som do telemóvel, aquele bicho que tanto nos consegue fazer sorrir como cerrar os dentes com força. Confesso que demorei um certo tempo a equacionar se valia a pena levantar-me para ver o que se passava, afinal já passava da meia noite e eu estava a sentir-me tão pequenina, tão agasalhada, tão bem.

Ao fim de alguns minutos, acabei por esticar o braço ao máximo e lá consegui pregar com o telemóvel no chão. Na mensagem dizias que tinhas acabado de sair da Universidade, ainda nem tinhas jantado e querias saber se o pessoal se tinha juntado todo aqui (como é normal à sexta-feira). Passaram-me várias coisas pela cabeça como ignorar a mensagem e continuar a desfrutar do meu "ninho", no entanto, acabei por te dizer para onde tinha saído toda a gente e que eu estava sozinha, não valia a pena vires cá. Mas tu vieste na mesma... aparentemente também não querias meter-te em ambientes confusos naquele dia, nada de muitas imagens, gente a falar, fumo, música alta... Não estava à espera que viesses, não estava mesmo. Mas sabes que mais? Foi o melhor que podias ter feito.

Ainda consigo ver-te a entrar na sala com o pacote de castanhas assadas na mão. Ainda consigo sentir o sorriso e a sensação quente que deixaste que alastrasse dentro de mim. Acho que também te rias da minha cara gulosa e dos dedos sujos do carvão das castanhas. Sentaste-te comigo no chão, queixaste-te que te doía o pescoço mas não foste para o sofá. Acabaste por deitar a tua cabeça e os teus caracóis no meu colo, assim ao contrário do que acontece nos filmes.


Folhas escarlates e castanhas assadas: as únicas razões que me fazem abraçar o Outono. Ficámos a noite toda juntos e eu nunca me esqueci... até porque tu nunca gostaste de castanhas assadas.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Ode aos críticos de cinema

Se há coisa que eu não compreendo é exactamente para que servem os críticos de cinema, especialmente em sites onde o público também vota. Do meu ponto de vista, um crítico de cinema devia esclarecer os pontos fortes e fracos do filme. Se possível, explicar se vale a pena dar 5 euros por ele e comparar a algum filme já conhecido para dar uma vaga ideia da coisa. A maior parte dos críticos de cinema só serve para correr com o pessoal dos cinemas (seria essa a ideia original?).

Existem os críticos "enciclopédia", sabem tudo do passado dos realizadores: onde nasceram, as influências, as notas da escola, a primeira curta-metragem, quando é que o filme foi exibido pela primeira vez, os prémios que recebeu, excertos de entrevistas, etc. Comparam o filme actual com um qualquer que a criatura fez há 20 anos e dizem que esse é que era bom. Ficamos sem perceber se o filme vale ou não os 5 euros.

Os críticos "pessimistas" acham que qualquer filme é mau, os filmes bons eram na altura da Maria Cachucha ou de um realizador que nunca ninguém ouviu falar. Acham que o pessoal de hoje em dia não faz ideia do que é realizar um filme, divagam sobre outros filmes com o mesmo tema que, segundo eles, são obras-primas e esquecem-se do filme que deviam criticar.

Há aqueles que contam o filme do princípio ao fim: "O filme começa com o José que é desempregado, entretanto conhece Lúcia, o amor da sua vida, e a mãe dele morre em circunstâncias misteriosas. Todos suspeitam de Lúcia mas o verdadeiro culpado é o cunhado". Estes resolvem-nos o problema: ficamos logo sem vontade de ver o filme.

Existem também os críticos "surrealistas", são capazes de ver um arco-íris no "Branca de Neve" de João César Monteiro. Por alguma razão (que não o excesso de dioptrias), vêem um filme que não é o que o realizador fez. No plano de uma barraca conseguem encontrar uma crítica à sociedade e o facto de existir um arbusto na cena é uma clara menção à política de Bush. O chato é que podemos ficar muito entusiasmados com o filme e depois achar que não percebemos nada (ou pelo menos não entendemos o que o crítico entendeu).

E temos ainda aqueles que não viram filme, copiam as críticas estrangeiras e ficam muito felizes com isso. Sai sempre qualquer coisa como: "filme muito aclamado no festival porco de prata" o que deve querer dizer que é bom ou "o filme passou despercebido nos Estados Unidos" o que não diz nada porque, já se sabe, a opinião dos americanos não interessa nada.

Ora bem, o que é que acontece na realidade? Ninguém liga nenhuma aos críticos e o pessoal vai aos sites onde o público vota. Se há 200 pessoas a votar menos de 3 estrelas, fujam do filme! Nenhum português dá menos de 3 estrelas a menos que os 5 euros que gastou tenham sido mesmo mal gastos! Acima de 4 estrelas começa a ser um bom filme. E depois, acabo por gostar mais dos filmes comerciais do que daquelas "obras de arte" que os críticos idolatram (e que me fazem dormir).

terça-feira, outubro 10, 2006

Quando é que mudou?

A respiração volta devagarinho ao normal, o batimento cardíaco continua rápido e o meu corpo brilha do suor que ainda não foi absorvido pelo que resta do lençol... Agora já consigo pensar, consigo partilhar o que penso de ti, de nós. Assusta-me pensar até onde que chegámos. Olho para ti, um sorriso cansado mas sincero, olhos meigos que realmente se preocupam comigo.

Como chegámos até aqui? Evito pensar em toda a minha família, evito pensar na tua. O que realmente me preocupa é: quando é que passámos a conhecer-nos demasiado bem? Quando é que passámos a precisar um do outro? Quando é que passou a ser verdadeiro?... A situação assusta-me um pouco, não te consigo ver sem me imaginar a tirar-te a camisa e ao mesmo tempo não compreendo como arrasto a situação sem mexer um dedo para lhe colocar um ponto final ou talvez um inicial, apesar de tudo.

Conta-me o que sentes, conta-me porque me queres, conta-me porque é que pensaste que eu era a mulher da tua vida. Conta-me como vamos ter um futuro doce sem dificuldades, conta-me enquanto estás aqui comigo a sorrir e a olhar-me nos olhos. Conta-me histórias...

sexta-feira, outubro 06, 2006

Fado triste

Como almocei mais cedo do que o normal, em vez de ver as notícias fui "presenteada" com um programa da manhã (menos mal porque era na RTP1). Parece que hoje é dia de festejo, acredite-se ou não, estão a festejar o facto da Amália ter morrido há 7 anos. Eu sou a favor de aproveitarmos todos os momentos para festejarmos, quer alguém tenha morrido ou não.

Ok, eu não percebo nada de fado.. é verdade. Sei o nome da Amália pela mesma razão que sei o do Eusébio (não tem nada a ver com lontras) e já vi mais vezes um remate do Eusébio do que ouvi um fado da Amália. Aquele tipo de música não me puxa nada, não sou capaz de ouvir e deliciar-me. Mas posso opinar na mesma: que raio de caretas são aquelas?! Eu sei que os guitarristas têm a mania de fazer caretas ou meter a língua de fora quando prolongam uma nota aguda, mas o que é aquilo? Eu nem ouvi o que é que a Kátia Guerreiro estava a cantar, a minha atenção estava toda na cara que espelhava um sofrimento terrível, um verdadeiro parto sem epidural a cada sílaba. O queixo estava apontado para o PoSAT e a cara de sofrimento a olhar para o tecto só fazia pensar em que tipo de tortura inquisitória é que o tecto lhe estava a infligir. Anda aí tanto actor que não sabe fingir sofrimento e afinal basta aprender a fazer um playback de uma fadista! A única parte chata é mudar o argumento para ter o criminoso a atacar sempre por cima.

Como não estavam satisfeitos, resolveram levar dois guitarristas e procurar populares que quisessem cantar um fado "amaliano". Numa escolha que me pareceu perfeitamente lógica, foram ao mercado do Bulhão. Curiosamente aquilo não caiu e nenhuma mulher tinha sotaque do norte. Acho que as reportagens sobre o fecho do mercado são fictícias, quando se deu a confusão toda não havia uma entrevistada que falasse sem sotaque.. seriam figurantes?
Aí percebi finalmente o sofrimento da Kátia Guerreiro, tive um momento de escuridão total: aquelas "fadistas" resolveram abrir a goela e nuns minutos que duraram uma eternidade mostraram que é possível saber de cor uma música, ouvi-la mil vezes por dia, adorar a Amália e não acertar numa única nota, bravo! Os meus tímpanos pediam clemência, o meu queixo deixou-se cair de terror e desconfio mesmo que as celulazinhas que interpretam o som para sinais eléctricos estavam a planear um suicídio colectivo. A felicidade é que no meio de tanta tragédia, o microfone deixou de funcionar (partiu-se), entregou a alma ao criador e aposto que nunca pensou que pudesse vibrar tão sofrivelmente sem ter sentimentos.

Sim senhor, aquilo é o que eu chamo de homenagem! Ou talvez de crime público, não sei.

sábado, setembro 30, 2006

Eras tu?

...E tu chegaste tão perto
Que te apertei no meu peito
Já não era uma miragem
Era a sério, eras tu..

Faz tanto tempo, tanto tempo
Faz tanto tempo e eu não esqueci...

O que é que seria chegar aos 50 anos, olhar para trás e pensar "epá, eras tu?!". Assim tipo realização de última hora, a pólvora depois da guerra. Sei que não me ia atirar da janela porque isso dava muito trabalho, rir para não chorar era capaz de ser a melhor hipótese e também ficar quieta até digerir a informação. Vistas bem as coisas, isto até tem lógica... afinal, saber que alguém nos é verdadeiramente importante nota-se melhor ao fim de algum tempo, quando conseguimos ver as coisas com uma certa distância racional e dissipar o nevoeiro emocional. Neste ponto, estas duas almas gémeas devem estar casadas e com filhos, cada um na vidinha que traçou. Será que vamos olhar para a outra pessoa da mesma maneira? Será que não vamos tentar captar-lhe a atenção? Será que não sucumbimos à vontade de a puxar para um canto e soprar-lhe ao ouvido que é "a tal"? (Expressão correcta segundo o meu guru) A única coisa que me parece chata em deixar ficar tudo na mesma, é que na realidade nada fica na mesma, a comparação entre o que se tem e o que se poderia ter é inevitável.

Ao estilo das "Pontes de Madison County", o que fazer quando podemos escolher entre a pessoa que nos acompanhou até ali e a pessoa com quem queremos realmente estar? Quando podemos cortar com a nossa vida, largar tudo e começar algo radicamente diferente que, apesar de estar certo, pode ter um sabor amargo? Será que temos coragem de cortar com tudo, mesmo que seja a vidinha mais monótona à face da Terra que jurámos aos 20 anos que nunca íamos ter? E se tivermos coragem, como é que se começa uma vida feliz sabendo que magoámos as pessoas de quem mais gostávamos? Afinal, o amor manifesta-se de tantas formas.. é tão fácil amar duas pessoas ao mesmo tempo.

Apesar de ter a certeza que sou dona do meu destino e que as curvas aparecem quando eu resolvo mudar de rumo, tenho uma certa fé (esperança?) que a nossa vida nos cruze mais do que uma vez com o rumo certo (ou seja, que podemos fazer asneira e ser felizes na mesma). Acredito que o tempo que perdemos entre esperar "a tal" pessoa e a arriscar com a errada é-nos dado diversas vezes. Temos é que aproveitar as nossas escolhas da melhor forma... mesmo que as troquemos após 50 anos.

segunda-feira, setembro 11, 2006

A (des)Química do Amor

A minha ideia de amor é um bocado estranha, suponho que me encontro numa minoria, mas descobri há pouco tempo que não sou a única a partilhar este ponto de vista. Antes de mais, quero dizer que tenho a perfeita noção que sou uma namorada a dar para o muito mau! A parte chata é que eu não estou a pensar em mudar (dá trabalho e eu tenho falta de tempo).

Talvez seja excesso de racionalidade numa área em que ela não devia participar (foi o que me disseram), mas eu sinto que o amor por alguém é eterno até aparecer outro "melhor". Não estou a dizer que essa pessoa tenha que existir ou que "melhor" seja mais rico, mais bonito ou mais inteligente. Desconfio mesmo que há gente que se farta de estar bem e que troca um companheiro espectacular por alguém que pode nem ter os dentes todos ou ter uma anomalia cerebral qualquer, mas com quem houve um click! Parece que a culpa é da química cerebral.. Isto de ter uns circuitos que resolvem disparar quando bem lhes apetece deixa o amor na corda bamba!

Não vou ao ponto de acreditar que o amor dura 4 meses (como não sei quem escreveu), mas a verdade é que acho que depende mais do meio ambiente do que deveria. Antigamente era muito bonito, as pessoas conheciam 15 vizinhos, escolhiam um para casar e passavam o resto da vida a conviver com as mesmas pessoas. A única maneira do casamento dar raia e de se querer trocar o companheiro de almofada era quando aparecia um vizinho novo! Agora passamos os dias a conhecer gente, todos os anos há caras e personalidades novas nas empresas, festas, escolas, chats, etc. Isto quer dizer que o nosso companheiro vai ter que ser "melhor" do que as milhentas pessoas que conhecemos anualmente. É um pouco como pedir que o nosso cérebro se deixe estar quietinho e não se meta em confusões quando o novo chefe se aproxima...

Soube que 1 em cada 3 casais que vão de férias voltam separados, isto de domar o cérebro não é fácil! Vou acabar este devaneio com o Burt Bacharach:

...So for at least until tomorrow
I'll never fall in love again

quarta-feira, maio 17, 2006

Quase poema...

Apareceste vinda do nada e fizeste um estrondo tão grande cá dentro que me senti acordado de um sono profundo por um trovão imenso. Não sei de onde vieste, nem faço a mínima ideia de quais são os teus planos ou para onde queres ir, não sei como apareceste aqui, mas rogo-te para que fiques comigo esta noite. Enches-me a alma de alegria, só de olhar para ti sou forçado a sorrir por sentir o meu peito tão cheio de felicidade transbordante. Tenho a certeza que o meu coração vai bater tanto esta noite que nunca mais vai tomar o ritmo certo quando tu não estás. Esta noite sinto-me capaz de salvar o mundo quando te abraço com força, quando sinto o calor e o suor do teu corpo colado ao meu. Não há guerra que consiga vencer um beijo teu... tão quente, tão cheio, tão certeiro. Tanta vida... tanto movimento, alimentas o meu espírito de tal modo que eu tenho a certeza que ele andava sedento e praticamente morto antes de te conhecer.
Eu disse-lhe um segredo: não partas nunca mais. E dançou, rodou no chão molhado, num beijo apertado de barco contra o cais...

E uma asa voa a cada beijo teu,
Esta noite sou dono do céu...

sexta-feira, abril 28, 2006

Ao longe

Ela olha para ele de cima a baixo e descobre que tudo o que mudou nele não muda nada, é ele na mesma. A mesma pele agora um pouco mais queimada, a barba mal cortada que arranha ligeiramente, as mãos sujas da terra que lhe cobre a roupa e os olhos tristes. Os olhos é que ela não reconhece, já não são dele.. através deles ela sente a alma a gritar de resignação.

Eu estou quieta a observá-los, a sentir a respiração contida e os olhares de redescoberta, de medo. Ela esboça o primeiro sorriso e ele encarreta uma conversa banal. Quebram o gelo, finalmente. Conforme ele vai andado, ela segue-lhe os passos com o mesmo sorriso feito que tinha há pouco.. nunca se colocam a par, mas falam e, às vezes, até riem. Ela observa o que poderia ser ela ao conhecer no que ele se tornou e a vida que abraçou. O medo desvanece por completo e dá lugar a um novelo de pensamentos entrelaçados. Tanto temor para quê? Tanto nervoso miudinho, tanto esfregar de mãos e respiração cortada sem querer, para quê? O tempo é demasiado poderoso. Ela vê o tempo a passar nos olhos dele, cada grão de areia que cai no fundo da ampulheta e ela sente-se tão feliz! Feliz porque aquele não é o futuro dela. Tudo o que ela passou, as novidades, as mudanças, as noites em claro, as lágrimas teimosas, a ansiedade, a confusão, o medo de não voltar.. E para quê? Ali estava ela, exactamente onde queria estar. Curiosamente, naquele presente ele não tinha qualquer papel senão na cabeça dela, nem um mísero figurante era! Continua atrás dele mas o sorriso que agora leva estampado na cara é verdadeiro, o brilho nos olhos dela contrasta tanto com o baço dos dele, que qualquer pessoa poderia ver a necessidade que ele tem de o sorver nos dela.

"Temos que repetir isto mais vezes"
Ela acena que sim com a cabeça mas tanto lhe faz. O medo desvaneceu, afinal não era nada. A quantidade de coisas com que ela se preocupa antes de acontecerem é assustadora, mas ela está a aprender que só se deve preocupar com o que acontece, a vida prova-lhe isso a cada momento. Eu vejo-a a recuperar o sorriso alegre, a ser senhora de si e da vida que leva, especialmente da felicidade que sente por ter chegado até ali, ou melhor, aqui. Sorrio também e abandono a minha postura petrificada. Ela despede-se dele com um aceno, enquanto ele espera um abraço. Não obstante, pega-lhe na mão para a ajudar a entrar no carro. Ele fica parado, de pé, a dizer adeus enquanto ainda sente o cheiro dela no ar que o envolve. E se era ela o que ele realmente queria? Mesmo depois deste tempo todo? Sabia a dificuldade que tinha sentido em pegar-lhe na mão e tinha reparado na falta de atrapalhação dela. Olhos tão vivos que poderiam ser agora os dele... Bem, não interessa pensar nisso porque o presente dele é a terra que o cobre de cima a baixo. Vejo-o voltar para casa a massajar a mão com que tocou nela, acender a televisão e a mergulhar no sofá. Eu sorrio da liberdade recentemente descoberta.. e de não ter qualquer sensação na minha mão.

terça-feira, abril 04, 2006

Manhã de Natal

Olho para ti de uma maneira que espero que mais ninguém olhe. Não é que tenha sentimentos demasiado egoístas, mas tenho a necessidade de pensar que mais ninguém vê aquilo que eu consigo ver. Quero ser a única a ter este ponto de vista, como uma fotografia premiada ou uma perspectiva especial que mostra toda a beleza escondida de um local. Tenho aquele olhar com que contemplava as prendas que desembrulhava na manhã de Natal, quando finalmente encontrava a que eu desejava mais. Eu não sentia que havia mais uma centena de miúdas com a mesma boneca, simplesmente aquela era a minha boneca e eu era capaz de olhar para ela como mais ninguém era. E acredito que há muita gente que percebe perfeitamente o que eu sinto e que partilha do mesmo, mas não quero saber dessa verdade. Esta visão é minha e tudo o que eu sei ou sinto cá dentro não é para descrever ou confessar a mais ninguém.

Quanto mais olho para ti, mais descubro que há pormenores que me estão sempre a escapar. Sei as expressões e consigo repeti-las só para mim dependendo do tom com que falas, mas sei que nunca vou saber tudo e isso é bom, reconfortante. Continuo curiosa a tentar descobrir tudo o que não sei. Ainda me surpreendo quando estou a olhar com menos atenção e, de repente, aparece a minha imagem que é a tua na verdade. É quase como se estivesse a olhar para outra pessoa que quero conhecer minuciosamente, cada mudança no tom de pele, as rugas no canto dos olhos e dos lábios, o sítio onde apetece mais tocar no teu cabelo, o espaço por detrás da clavícula que me guia até ao teu pescoço. Nada é meu, mas eu sinto que só eu é que sei daqueles pormenores escondidos nestes locais minúsculos. Não vale a pena perguntar o que estou a pensar porque eu não sei responder ao certo. Estou a elaborar uma biblioteca privada sobre ti dentro da minha cabeça, tentar que não me escape nada, não quero esquecer nada... É isto que me faz fundir em ti.

sábado, abril 01, 2006

O post dos porquês

Hoje sinto-me com 3 anos (só hoje, mais coisa menos coisa) e apetece-me perguntar o porquê de tudo. Resolvi então recorrer à minha idade "quase-adulta" e em vez de chatear alguém em particular, vou chatear toda a gente que cair na asneira de ler isto! Democrático, não é? Ora cá vão algumas coisas que me afligem hoje, amanhã logo se vê.

Para começar, vou gastar já o meu melhor cartucho e esperar que alguém me tente matar ou, na melhor das hipóteses, deixar de falar após ler o que se segue. Ora cá vai disto:

Porque é que há gente com dois nomes próprios que não soam bem nem ao menino Jesus?! Há por aí nomes que conseguem superar os da pimbalhada e que não soam bem nem ao fim de muitos anos de convívio (com prática lá se consegue treinar o tímpano para não reagir.. demasiado). A mania de meter dois nomes que não têm nada a ver um com o outro ultrapassa-me. Parece que alguém não conseguiu decidir entre dois nomes e, em vez de ter dois filhos, sacrificou logo o primeiro rebento com medo que o segundo se recusasse a aparecer. Será que custava muito registar as criancinhas com um nome provisório e depois esperar que elas atingissem os 18 anos para decidirem? Meter o nome de Maria a rapazes só funciona se lhes sair um brasão de armas na lotaria; Tito era o nome do cão da vizinha do rés-do-chão da minha avó; nomes quase-portugueses como Priscilla são impronunciáveis; Cristiano Ronaldo nunca vai soar bem e Pascal André também não!!

Porque é que os bébés são adoráveis? Sinceramente, os bébés são vermelhos ou roxos (depende do nível de obstrução do ranho à passagem do oxigénio), feios, babam-se muito, berram ainda mais, vivem com os próprios dejectos colados ao corpo e não fazem absolutamente nada de útil! Podiam sei lá, fazer uns números de circo ou de stand-up para entreter a mãe que anda há dois meses sem dormir e evitar uma depressão pós-parto? Fazer bolhas de saliva não é considerado entretenimento.

Porque é que eu não sou uma portuguesa a sério se não gostar de bacalhau?
Isto vem na constituição portuguesa?! Bacalhau cozido é horrível e quem quer que se tenha lembrado disto para a ceia de Natal só não vai parar ao inferno porque é Natal e há muitas sobremesas para fazer esquecer a fome. Porque é que não sou miúda se não gostar de passar horas intermináveis a comprar roupa? E mais ainda: porque é que o café (que é amargo) é suposto ser bom depois de levar com 1kg de açúcar em cima!?

Porque é que os pastéis de nata dão tanto trabalho a fazer? Raio dos bolos que são tão bons e aquela massa folhada só serve para quem não tem mais nada que fazer.. (E desculpem lá, mas a massa folhada congelada nem se compara!)

Porque é que a TVI é o canal mais visto em Portugal?.. Isto tem a ver com o facto de eu não gostar de bacalhau e de café e não entender o gosto típico do português?

Porque é que as mulheres não podem dar missa?
Sermões todas as mães dão.. Além de machismo, isto tem mais alguma coisa associada? Na Inglaterra é permitido e não me parece que as pessoas tenham deixado de acreditar na sua religião por causa disso. Isto tem tanta lógica como proibir as mulheres de entrar para a escola primária. (Eu sei que há homens a favor desta última, mas para esses: ainda é a vossa mãe que vos compra roupa e a mete numa cadeirinha no dia anterior para vocês a vestirem no dia seguinte, não é?..)

quinta-feira, março 09, 2006

Número de engate

Ok, e pensava eu que engatar pessoas pela Internet era estúpido. Acho que descobri a última moda dos desesperados deste país, a diferença é que agora a vítima têm que ter telemóvel e não uma vagina (coisa extremamente difícil de encontrar, portanto). O que se segue não é pura coincidência, tudo o que vou escrever é rigorosamente verdade.
Na semana passada recebi a seguinte sms de um 91 que me sinto na obrigação de partilhar:

"Ola tudo bem? Marquei o teu n ao acaso e acreditei que podia nascer uma amizade entre nos, o que achas? Vamos desafiar o destino? Chamo-me Antonio."

Estive mesmo para responder "Olá, eu chamo-me Xavier" mas depois desisti. Primeiro porque não tenho nada contra as pessoas chamadas Xavier e depois porque as sms custam dinheiro, parecendo que não, custa ver o saldo a diminuir com este tipo de coisas. Guardei a sms para me poder rir quando me apetecesse e não me lembrei mais disto até hoje. Ora bem, hoje recebi mais duas sms erradas e que, por sinal, eram declarações amorosas (não sei se ainda vinham em atraso da época dos arrulhos) - assim um bocado parecidas com aquelas da TV: marque "amor 3434" e receba uma sms para enviar à sua cara metade visto você ser demasiado estúpido para conseguir escrever uma sozinho e não ter amor ao dinheiro. De qualquer modo, senti pena por saber que havia alguém lesado em duas declarações amorosas (ao par sai mais barato?). Não me queria armar em anti-cupido e respondi gentilmente que as sms não eram para mim, mas que desejava boa sorte com a pessoa certa! E não é que me responderam? Ah pois é! O mundo das mensagens de 160 caracteres não pára de nos surpreender (desta vez de um 93):

"Obrigado.. e peço desculpa pelo engano que já é a 2ª vez. Posso saber o nome de tão simpática pessoa?"

Ai, dor..
Devo dizer que o meu número de telefone é praticamente impossível de decorar, a série não têm lógica nenhuma e a única coisa que pode chamar a atenção é que tem "69" no fim. Será por causa da terminação? Será por isso que só me sai disto? Mas há assim tanta gente a querer engatar o meu número de telemóvel?! Eu sei que estamos quase na Primavera, eu sei que os passarinhos já andam a fazer os ninhos, as árvores estão a ficar esverdeadas e até o Benfica passou aos quartos de final, mas mesmo assim, não havia necessidade.. (Banda Sonora: Desperado dos Eagles).

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O dia das serpentinas apaixonadas

Pois bem.. o dia dos namorados. No ano passado evitei ao tema, mas este ano resolvi falar dele. Primeiro que tudo (e porque acho isto muito importante) o dia 14 de Fevereiro é o dia europeu da disfunção eréctil. Sobre este último não digo mais nada porque o sentido de oportunidade já é suficiente. Depois também acho interessante festejarmos com muitas rosas e beijos o dia da morte do S. Valentim, torturado.. claro! É bom sabermos que mataram um padre porque ele casava os rapazes que estavam bons para ir para a guerra e o governante da altura não achou piada. Como os casamentos continuavam em grande número, alguém resolveu cortar o mal pela raiz e matar o padre. Coitado! Já nesta altura a união de facto tinha poupado uns tantos problemas jurídicos.

Isto de ter as lojas todas vermelhas, cheias de corações e peluches é um bocado foleiro. A verdade é que as lojas no Carnaval estão muito mais alegres com serpentinas, máscaras de palhaços,ursos, índios.. sei lá, um nível de foleirice um bocadinho mais baixo. As pessoas estão com outra disposição, ninguém se chateia por tentar jantar fora e os restaurantes estarem preparados apenas com mesas a dois com a porra das velinhas. Porque não juntar as duas festividades? Porque não ver as famílias com as crianças mascaradas (ou mascarradas) nos restaurantes assim como um lobisomem a jantar com a menina da GALP pluma? Ou um fantasma a abraçar um crocodilo? É que além de um dia para fugir ao nosso aspecto diário e do aspecto da pessoa que vemos mais vezes (ou talvez não) há outras tantas facilidades a ter em conta: se estiveres apaixonado por uma pessoa do mesmo sexo, ninguém fica a olhar para ti de lado se fores vestido de mulher/homem, podes sair dos restaurantes/bares sem pagar porque também ninguém viu a tua cara e, de qualquer maneira, com a luz das velas podes sempre começar um pequeno fogo de distracção com as serpentinas!

Mas o dia dos namorados também tem coisas giras. Ver grandes filas de homens nas floristas (depois da hora de saída do emprego) e ver homens que se metem na fila e compram flores porque sabem que é um dia especial, mesmo que não saibam exactamente qual. É aqui que a publicidade ajuda e não serve só para testar o daltonismo, é impossível que exista alguém que não perceba que o dia dos namorados está a chegar, mesmo que seja um despistado nato! É sempre bom termos a certeza que não nos vamos esquecer destes dias, não vá alguém levar os esquecimentos a peito! Também é verdade que os namorados fazem questão de mostrar que gostam um do outro quando lhes apetece, não precisam de dia pré-definido. Este dia é então uma boa desculpa (como outra qualquer) para uma escapadela dos que estão juntos há uma eternidade, até porque há borlas nos telemóveis e descontos em pousadas que devem ser aproveitados!

Estão a ver, nem tudo é mau na época da invasão da coronária vermelha!
Mas a melhor parte deste dia, que é mesmo boa, é que aparecem morangos em todos os hipermercados a um preço fabuloso! Mesmo em caixinhas de plástico reles em forma de coração, temos morangos doces em Fevereiro e eles fazem-me pensar que há sempre um bocadinho da Primavera todo o ano em todo o lado.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Tudo bem?

O que é que queremos realmente dizer quando perguntamos "tudo bem?", será que estamos mesmo interessados na resposta? Acho que, em 80% dos casos, o pessoal se está a marimbar. O início de conversa mais batido é o belo do "olá, tudo bem?" e a reacção posterior é quase sempre a mesma quer a pessoa nos diga que se tentou mandar duas vezes de uma ponte abaixo quer diga que descobriu um chá espectacular para os nervos. Só respondemos à parte do "e contigo?" de onde sai o típico "tudo (bem)!". Perguntar se está tudo bem é, basicamente, uma questão de boa educação, o estarmos interessados na resposta já é pedir muito..

Perguntar a alguém se está tudo bem é um bocado arriscado se for ao vivo. Pode ser que a coisa corra bem, que a outra pessoa se fique por um "tudo bem e contigo?" e cada um siga o seu caminho. O problema é se a coisa corre mal e a outra pessoa está a precisar de desabafar com alguém (e está tão desperada que nem se importa se for connosco). "Epá, nem imaginas o que me aconteceu! No outro dia fui ter com a minha prima - aquela que mora para os lados de Algés - e não é que o carro.." - é a altura em que largamos algumas pistas subtis: olhar insistentemente para o relógio; ".. e depois o homem disse que só se eu fosse à oficina do Zé, aquele que já foi vizinho do meu avô,.." - evitar o contacto visual e procurar alguém conhecido nas redondezas; ".. eu já estava a ver a minha vida a andar para trás, sabes que eu não disse à Ana que lá ia.." - cruzar os braços e ser incapaz de acompanhar a conversa sem ser com "humm", "ah", "pois"; "..e no meio disto tudo, nem adivinhas quem é que eu encontrei! Ah pois foi, a Felisberta! Ao fim deste tempo todo, a vida tem cada uma.." - nunca se deve perguntar "a sério?" ou "ah sim?" porque isso dá para, pelo menos, mais dez minutos de monólogo. Se a grafonola se lembrar que tem dois ouvidos e que eles não estão a processar informação, então é capaz de perceber que se está a alongar um bocado e tenta que a coisa se torne num diálogo não monossilábico.

A pior parte é que quando devíamos deixar a boa educação em casa é que a esbanjamos.. velhotes, essa calamidade nacional! Somos todos sorrisos e damos um "olá!" rasgado, elogiamos a boa forma e perguntamos ao mesmo tempo que nos arrependemos: "tudo bem?". É a catástrofe, desastre total! Vamos passar os próximos dez minutos (optimismo) sem abrir a boca, onde o nosso interlocutor nem está preocupado se respondemos por monossílabos ou se não respondemos sequer, o que interessa é despejar o rol das enfermidades que ele/ela tem. É incrível como todos os velhos têm todas as doenças possíveis e imaginárias (deles e dos conhecidos deles), querem ser o supra sumo das doenças (como nós competimos por telemóveis, carros e respostas às perguntas do Trivial) e lá estamos a aturar tudo com o sorriso mais plástico que conseguimos porque ele nunca devia ter aparecido. Ficamos a saber das manchas que apareceram no dedo grande do pé, assim como do provável problema hepático (porque o Joaquim que mora na esquina também tem esse problema), da queda de cabelo, do cansaço, desconfiam que têm cancro, problemas respiratórios, cardíacos e que o médico é um incompetente porque não encontra nenhuma doença que não seja a velhice! Nós despertamos e despedimo-nos quando nos dizem a única coisa que se aproveita: para aproveitarmos a vida enquanto somos novos!..

Para poupar uns anos de juventude.. vou evitar perguntar se está tudo bem.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Porque votaste sim

Sinto-me demasiado aprisionada dentro de mim própria. O meu corpo rege-se por outras ordens que não as minhas. Estremece ao mais leve sussurro, sente-se irremediavelmente atraído, não pára de ferver sentimentos embrulhados que não consigo conter. Não consigo mudar de canal dentro da minha cabeça, não consigo parar de respirar o ar guardado dentro de mim, não consigo fechar os olhos e imaginar outro lugar. Não consigo sequer tentar, parece que não sou eu. Não consigo imaginar mais nada, não quero mais nada, não consigo parar. Acho que me deixei cair fundo demais dentro de mim.. Foi demasiado depressa e nem me deu tempo para abrandar. Às vezes chateio-me comigo, não consigo fazer nada para inverter a situação. Nem sequer me apetece. Tomaste conta de mim.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Considerações da passagem de ano a três

Como mudou o ano, é altura para reflectir.

Sou só eu ou o dia 1 não serve para fazer nada de útil? Se não fosse feriado, era uma greve geral a nível nacional (e não só do sector público). O dia 1 espelha todas as coisas que gostava de fazer no dia-a-dia do ano novo: nada. Ficar na cama até a noite chegar porque me dói o corpo todo, ficar a dormir no sofá com o comando na mão, ignorar o barulho do telemóvel com as mensagens que não caíram na véspera. Esperar que ele fique sem bateria porque não me vou levantar para o desligar. Fazer desaparecer o pequeno-almoço, o almoço e todas as refeições que sejam à luz do dia. Petiscar os salgados da véspera, fechar os olhos e fingir que não vai existir nenhum dia seguinte.

Desejos para o ano novo:
- Que hajam mais dias assim.
- Que não chova nas festas ao ar livre.
- Que as pessoas não abram champanhe sem ver se há pessoas com óculos atrás, já agora, que segurem na rolha.
- Que o pessoal não deixe de vir ao blog por causa deste post.
- Que hajam mais dias assim.

Coisas que nos passam pela cabeça nestas alturas:
- Será que aquelas mulheres do circo que fazem de alvo aos que atiram facas têm seguro de cirugia plástica?
- Será que o homem bala não tem problemas a conseguir empréstimos no banco? Deixam-no fazer seguros de vida?!