sexta-feira, maio 28, 2010

XVII: O Dia D, parte VII

Respirei fundo outra vez, endireitei as costas e entrei na sala com o envelope na mão à vista de todos. Vi a cara do Miguel desenhar um certo pânico e o maluco apontou-me o detonador como se fosse uma arma. Se calhar era do cansaço, mas eu estava extremamente exausta e farta porque ninguém me explicava nada, portanto acabei por dizer alto e bom som:

- Não me interessa que ele não entenda o que eu digo. - Apontei para o detonador que continuava apontado para mim. - Aqui está o envelope que ele quer, ou me dizem o que raio se passa aqui ou eu mesma trato de entregar-lhe esta porcaria!! E tenho direito a isso já que me parece que fui a única que até agora fez realmente alguma coisa? O Miguel estava mais para lá do que para cá e a operação esteve cancelada! Se ainda estão aqui é por minha causa, portanto comecem a falar... já!!
- Calma Luísa, calma. - Ouvi uma certa comoção vinda do grupo. - Este senhor aqui que está a segurar no detonador é um dos principais cabecilhas de uma organização que se dedica ao tráfico de droga.
- Mas não só, não é? Porque eu deixei a droga onde estava escondida, e mesmo assim olha a confusão que vai para aqui! O que é que está dentro deste envelope?
- Não sei.

Vi a cara de desânimo do Miguel obrigado a confessar aquilo perante a equipa. Senti que se calhar tinha abusado um bocadinho e esperei que o outro tarado não entendesse uma palavra de português. Mas o que estava aquela gente a fazer em Portugal? O nosso lindo país de brandos costumes?!... Ah claro, brandos costumes. Sítio ideal para fazer este tipo de negociatas sem ter o pânico irracional dos americanos e ingleses, além de que os espanhóis até têm algum treino com organizações terroristas. E nós aqui à entrada da Europa com a nossa linda costa tão voltada para a América do Sul. Confusa com a situação, abri o envelope, esvaziei-o para a minha mão e caiu um diamante. Haviam uns papéis lá dentro que não caíram, mas eu fiquei mais interessada no diamante. Não sabia diferenciá-los, mas aquele era verdadeiro com certeza. Alguém na sala assobiou ao ver o diamante na minha mão.

E então tudo aconteceu muito depressa. O tarado lançou-se sobre mim para tentar tirar-me o diamante (ou o envelope?) e o Miguel lançou-se em seguida. Parecia que toda a gente sabia o que fazer menos eu, mas pareceu-me que o melhor era fugir em direcção à "minha" equipa. Baixei-me e consegui evitar que o chefe de não sei que organização me agarrasse, mas antes atirei o diamante ao Miguel. Ele apanhou-o prontamente e eu fiquei momentaneamente entre os dois. Olhei para o Miguel e percebi que ele já sabia exactamente o que se passava. Fiquei feliz, apesar de eu continuar às aranhas. Olhei para o homenzinho e ele tinha os olhos raiados de fúria e ignorou-me por completo quando carregou sobre o Miguel. Eu aproveitei a oportunidade para tirar-lhe o detonador quando ele passou por mim novamente. Tentei segurá-lo o menos possível e passei-o a outra pessoa qualquer da equipa que de certeza sabia melhor o que fazer com ele. Efectivamente, assim que o teve na mão saiu apressadamente da sala. Voltei-me para o Miguel que estava a lutar com o terrorista (se mete bombas posso chamar terrorista, não?) e, para minha surpresa, o Miguel estava a perder. Mas é claro que estava a perder, ele tinha apanhado uma sova enorme, devia ter mais ossos partidos do que eu tinha inteiros!

Não sei porquê, atirei-me eu também e tropeçámos os três num sofá que por lá estava. O homem levantou-se triunfante com o diamante na mão e dirigiu-se para a varanda. Comecei a ouvir um barulho ensurdecedor, mas sem pensar nisso, levantei-me e fui atrás dele. Assim que cheguei lá fora lancei-me sobre o homem e caímos os dois na varanda. Só no chão é que me apercebi que o barulho que vinha de fora era um helicóptero!! Olhei para cima e levei um murro em cheio na cara como que a penalizar a minha distracção. Voltei-me para ele novamente e, apesar de não saber esmurrar ninguém, usei as unhas na cara dele e tentei arrancar-lhe o diamante. Entretanto o resto da minha equipa chegou à entrada da varanda e encetou uma troca de tiros com o pessoal do helicóptero. A adrenalina voltou a correr-me nas veias e eu ganhei alguma força extra que tentei usar para recuperar o diamante, sem pensar na chuva de tiros e no facto de alguns homens estarem já no chão. Senti qualquer coisa a bater-me nas costas e não liguei, mas quando trocámos de posição no meio da luta e eu fiquei por baixo porque estava a perder, vi que era uma escada lançada pelo helicóptero. Nesse momento parou a troca de tiros. Porra, o homem ia conseguir fugir!!!

Eu nem era a favor de armas, mas não entendia porque é que do meu lado ninguém disparava sobre ele. Receio de algum incidente diplomático!? Que diabo!! Agarrei-me ao pescoço dele quando ele tentava subir a escada e pressionei o suficiente para obrigá-lo a usar as duas mãos contra mim. Caímos os dois para trás de novo. Ele deu-me uma cotovelada em cheio na barriga no sítio que eu sabia que ainda não estava completamente sarado e a dor foi tão intensa que deixei de ver por alguns momentos. Fiquei de joelhos no chão a tentar reprimir as lágrimas e a lembrar-me que precisava de
respirar. O homem deu-se ao luxo de sorrir ligeiramente quando eu finalmente consegui focá-lo. Altamente irritada e dorida, arranjei forças para dar-lhe um pontapé nos pés com toda a força que o desequilibrou bastante porque ele estava em bicos de pés para alcançar a escada. Não sei bem como é que ele arranjou aquilo, mas o desequilíbrio fez com que ele ficasse pendurado na escada pelo queixo. O helicóptero subiu a escada nesse exacto instante e ele foi levantado a meia altura. As pernas dele bateram na varanda quando a escada se mexeu e eu olhei incrédula enquanto os braços dele teimavam em falhar a escada... e ele acabou por mergulhar de cabeça em direcção ao chão.

Sem querer olhar para baixo, arrastei-me para dentro da suite e os tiros recomeçaram. Escondi-me atrás de um sofá onde o Miguel "jazia" e todo o meu corpo falhou nesse momento.

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